sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Longevidade

Entre 1960 e 2009, a esperança média de vida passou dos 66,4 anos para os 82,1. Já a taxa de natalidade desceu dos 24,1%0 para os 9,4%0, sendo que em 2010 subiu ligeiramente para os 9,5%0. Quanto à taxa de mortalidade, não oscilou grande coisa, pelo que se pode depreender que não se morre nem mais nem menos do que se morria há cinco décadas atrás. Resta-nos portanto o facto de vivermos cada vez mais anos – o que é, sem dúvida, um resultado do progresso; e de nascermos cada vez menos – o que é, sem dúvida também, um resultado do progresso. Só que a jogar em campo contrário.

Ora até que ponto é que o progresso está, efectivamente, a contribuir para a nossa felicidade global e colectiva é a pergunta que eu gostava de ver respondida porque me fico com a sensação de que tendemos a debruçarmo-nos sobre o particular e perdemos de vista a totalidade, pelo que corremos o risco de estar a dar uma no cravo e outra na ferradura sem passarmos efectivamente de cepa torta ou, na melhor das hipóteses, andamos a iludirmo-nos por algumas décadas em que tudo brilha como ouro, e mesmo assim só para alguns, para depois sacrificarmos outras tantas ou mais ainda a vivências miseráveis em que a humanidade parece regredir a uma velocidade impensável e se, em outras épocas históricas de queda e recuperação, existiam talvez uma ou duas gerações felizes, agora parece que nem isso, i.e., o espaço entre a ascensão e o declínio está a ficar cada vez mais curto, ou é da minha vista.

Pela parte que me toca, em meio século já me baralharam, pelo menos, duas vezes, o que, convenhamos, não é nem agradável nem um bom sinal. E se formos a ver bem não nos encontramos sequer perto do epicentro…

É claro que haverá sempre aqueles que vivem em negação e que, neste particular, gostam de afirmar que a imigração tratará de equilibrar a falta que fazem as crianças que deixaram de nascer por essa Europa fora. Esquecem-se contudo estas boas almas, que no nosso tempo de emigrantes – que já aí está outra vez – pouco dinheiro ficava no país onde se trabalhava a vida toda. Um emigrante raramente deixa de sonhar com o regresso e sempre que pode vai construindo “lá na terra” a “casa” dos seus sonhos, seja lá isso o que for.

Por outro lado é importante que se saiba que as reformas dos pensionistas são pagas com os descontos de quem agora trabalha e não com o dinheiro que descontaram esses mesmos pensionistas durante o seu período activo. Pode parecer estranho, mas há quem não tenha disto consciência. Ora, assim sendo, as reformas de quem agora trabalha serão pagas por aqueles que estiverem, nessa altura, a trabalhar, sendo que a pirâmide demográfica estará, pelo andar da carruagem, praticamente invertida, i.e., haverá muitos reformados para poucos trabalhadores.

Digam-me portanto os especialistas, que ando eu por cá a fazer mais de oitenta anos sem dinheiro para comer ou para pagar a minha casa. Que ando eu por cá a fazer, mais de oitenta anos, se não tiver condições de vida? A mim parece-me que a resposta é só uma – andarei a sobrecarregar ainda mais os poucos que por cá ficam a trabalhar; sentindo-me miserável e desejando, provavelmente, que o progresso tivesse, em determinada altura, seguido por um caminho diferente daquele que até hoje ainda não se cansou de seguir – o da longevidade. 

E, já agora, em que momento é que os cientistas, envoltos no entusiasmo da descoberta, deixam de pensar na humanidade para pensarem apenas na descoberta? E quem diz cientistas, diz as pessoas. Todas. Quantas existem verdadeiramente capazes de pôr a humanidade acima dos seus próprios interesses? Quantas as capazes de abrir mão seja do que for em beneficio do bem comum? Quantas?

E calo-me. Aliás era suposto tê-lo feito em “longevidade”. As minhas desculpas.

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