sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Enid Blyton e As Gémeas no Colégio de Stª Clara

Fez doze anos, está no sexto ano e não pode ter uma nota mais baixa porque chora. Antes dos testes tira de mim tudo o que pode e segue agarrada aos livros até o sono lhe bater à porta. É preciso garantir que será a melhor. A melhor, a mais bonita, a mais cool, a mais dread, do bairro que a vê crescer. Tem tudo para ser um orgulho, uma montra.

Hoje entrou com um livro na mão, Patrícia no Colégio de St. Clara. Li tanto Enid Blyton quando tinha a idade dela! Entusiasmada contei-lhe por alto a história das gémeas e das aventuras que tinham no colégio onde andavam. Ela sempre me pareceu uma leitora em potência, apesar de nunca a ter visto ler um livro. Mas como é daquelas crianças que quer saber tudo, que tem uma curiosidade tão ávida e tão próxima da coscuvilhice, não perco uma oportunidade para lhe vender o meu peixe

Pois hoje entrou com o livro na mão. Sentou-se, abriu-o na primeira página e queixou-se que provavelmente teria de o ir trocar pelo primeiro da colecção porque não estava a perceber a história que começava assim…, e lá me leu as primeiras linhas. Expliquei-lhe que, com o decorrer da leitura, perceberia tudo o que precisava de perceber.

Passados alguns minutos, poucos, vi-a entretida com o telemóvel. Perguntei-lhe se não estava a gostar do livro. Não tenho paciência para estas histórias, eu gosto é de violência. Olhei-a um bocado incrédula apesar de conhecer os seus maus modos e a grosseria que de vez em quando lhe salta do rosto fino, mas decidi não ser juíza, agarrar no fio e puxar, tentar ver o que traria na ponta. Suavizei a minha expressão e perguntei-lhe porquê num tom descontraído.

Fiquei a saber que gosta de ver gente “à porrada”, mas que aquilo que gosta mesmo é de assistir a discussões, “violência verbal” foi o termo que utilizou. Porquê? Porque é giro, e pergunta-me se eu não gosto. Não, nunca gostei, a violência é uma coisa que me constrange. Olhou-me com um certo ar de pena, acho que deixou de haver esperança para mim a partir daquele momento.

Dirigiu-se à mala onde arrumou o livro aborrecido e tirou um outro que logo voltou a guardar. Perguntei-lhe que livro era. Deu-mo uma amiga minha. Tem graça, disse eu, pareceu-me igual a um que está naquela prateleira. E dirigi-me à dita com ela no meu encalço, procurando o livro. Como não aparecesse, dirigiu-se à sala de dentro determinada a encontrá-lo no meio dos outros. Nada.

Incomodada pedi-lhe, por favor, que me mostrasse o que tinha guardado na mala. Quando o abri, na primeira página, brilhava a assinatura da minha filha, escrita por mão própria.

3 comentários:

CF disse...

:(:( Oh pá, que coisa triste. E agora, consegues lidar com ela??? Não publiques isto se te for incómodo...

Alda Couto disse...

Consigo :) Continuo a acreditar que tem solução, que é um acto isolado e ela continua a dizer que lhe foi dado por uma outra...com calma tudo se esclarecerá e pode até ser que eu consiga que ela acalme :) valia a pena, acredita :) é daquelas miúdas que há-de ser de extremos e eu gostava que ela caísse o extremo onde há luz :)

Inês disse...

"Desviar" um livro tem sempre perdão... Pior se fosse o faqueiro...