domingo, 4 de dezembro de 2011

Fotografia de família

Pelo caminho vão caindo que nem tordos os automóveis que não aguentam a pressão das infindáveis filas. E já não tem de ser dia útil, pode ser sábado, ou mesmo domingo, que a dança não muda. Será pela súbita escassez de transportes públicos? Será por estarmos no início do mês e termos adoptado aquela mentalidade do seja o que Deus quiser e embora lá enquanto é tempo e ainda se pode? O certo é que são mais que muitos e não há dia ou hora para se fugir do pára arranca que não termina nas portagens da ponte 25 de Abril mas continua, a maior parte das vezes, pela avenida da ponte, quer esta desça para Alcântara quer siga para outro destino.

Ontem levei mais de uma hora para chegar a Lisboa onde o jantar estava marcado para as vinte! Não ajudou a antiguidade que por ora conduzo, sem via verde, sem direcção assistida mas com um motor de meter inveja a muitos mais jovens que vão ficando pelo caminho. Passei por quatro. Quatro, de boca aberta pedindo socorro enquanto os restantes, impacientes, premiam as buzinas na esperança de endoidecer os portageiros e passar sem pagar.

Esperavam-me, e assim que entrei tentei ajudar. Na cozinha fui de encontro a um prato de sopa e logo a seguir, por retaliação, sofri um ataque da gata que morre de ciúmes e não deixa ninguém aproximar-se da dona.

Mas foi já à saída que reparei na pequena foto pendurada na parede.

Enfiadas numa moldura redonda, eu e as minhas primas. Elas de olhar posto na câmara, eu de olhos postos no infinito como se de lá algum bem viesse. Fomos quase inseparáveis durante anos. Aqueles anos em que as pessoas podem ser inseparáveis. Estou de laço na cabeça e a Leonor diz que pareço uma outra qualquer. Mas sou eu, no casamento de quem já partiu diz a Isabel, que eu nem memória tenho do lugar ou do momento.

Parece que durante anos passei por ela sem a ver, a fotografia. E só agora, que mudou de parede, é que dei de caras comigo, menina, de fita nos cabelos, pendurada por um fio numa parede. 

3 comentários:

CF disse...

Também já fui dessas :):)

gina henrique disse...

E essa constatação de um período de vida com boas recordações de certo deu para fazer esquecer ou pelo menos atenuar o tal transito maluco que nos deixa tantas vezes a beira de um ataque de nervos?!
Também usei laços na cabeça a condizer com os vestidos até que o meus protestos os aboliram de vez!!!

Sputnick disse...

Ainda podes usar os laços :)