As coisas têm a importância que lhes damos e muito poucas,
se é que há algumas, têm em si agregado um grau de importância merecedor das
preocupações que lhes dedicamos. Ao fim e ao cabo (eis aqui uma expressão que
uso e abuso precisamente porque tudo tem um fim), todos acabamos da mesma
maneira – de pés para a frente – independentemente da vida que levamos, pelo que
mais vale levá-la bem, evitando preocupações em demasia e nesse particular
podemos, e devemos, ajudarmo-nos uns aos outros.
É precisamente por isso que no respeito pelo outro faz parte
a atenção do que para ele é importante, ainda que o não seja para o próprio. Ora
cai-se muitas vezes no engano do menosprezo por tudo quanto é valor, por vezes
até na ausência absoluta de consideração, o que só pode ser, e é, um sinal de
ausência de educação, confundindo-se descontração com alheamento e alheamento
com egoísmo e prepotência. “Nada disto tem importância para mim. Quero lá saber
se tem ou não importância para alguém!”
E nesta descontração se perde, estou certa, algo de valioso
por ser a única coisa que levamos connosco quando nos despedirmos – a consideração
dos outros, a sua lembrança, a memória que de nós deixamos. Tanto aos que ficam
como, quiçá, aos que partem. A verdade é que a incerteza do que acontece depois
é total e mais vale prevenir do que remediar.
Mas nem isso sequer é o mais grave. Cada um sabe de si e
cabe ao próprio ser responsável pelos seus atos e por eles responder – nesta ou
noutra vida.
O mais grave é o exemplo que disso damos aos mais novos, àqueles
que pretendemos ensinar, perpetuando, e validando, algo que é contrário à nossa
humanização – o desprezo pelo outro, a indiferença ao que nos é, acreditamos
nós, alheio, ignorando que nada vive isolado, que tudo faz parte de um todo e
que cada elemento que o compõe influencia o conjunto, por muito ténue, discreta
ou transparente que essa influência seja.
A nossa falta de visão, a nossa incapacidade para perceber
quais são, de facto, as consequências dos nossos mais pequenos atos, não é uma bênção
porque nos deixa dormir descansados, é uma maldição porque nos impede de evoluir.
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