Tão longe da verdade estão aqueles que afirmam que o importante é o corpo, como os outros que gostam de acreditar que é na alma, ou no espírito, que está a salvação, que é como quem diz, o nosso bem-estar – porque é isso que todos e cada um de nós almeja, estar bem, e só está bem quem consegue esse maravilhoso equilíbrio entre essas duas dimensões de que somos feitos.
Assim, quando nos embrenhamos na difícil tarefa de nos conhecermos, é bom que não conheçamos apenas uma delas e que saibamos, e isso é fundamental, ver a passagem entre uma e outra para que possamos compreender a forma como, mutuamente, se influenciam.
Que parte de mim é mais vulnerável ao ambiente? Qual, ou quais, dos meus sentidos tem maior poder para alterar o meu estado de espírito? O que é que me atrai nos outros? E o que é que me repele? Qual o nível de esforço que tenho de fazer sempre que estou perante uma situação que me provoca repulsa?
Eu sou particularmente sensível aos cheiros e aos ruídos. É raro um odor passar-me despercebido e são os cheiros que têm o poder de me despertar memórias – são eles que eu guardo, porque são importantes para mim.
Quanto ao ruído, esse tem a capacidade de me deixar exausta. Sou capaz de trabalhar 12 horas seguidas, se for preciso, desde que não seja perturbada pelo ruído. Não digo que preciso de silêncio, ainda que dele necessite em momentos de abstracção mas o que não consigo suportar é o barulho. O esforço que me obriga a fazer para manter a concentração é tal, que fico exausta.
Já os cheiros têm o poder de me aproximar ou de me afastar das pessoas, e sempre que sou obrigada a suportar odores que sabe Deus há quem transporte, sobe-se-me uma irritação tal que fico completamente inibida de a tratar bem, pelo que me vejo na eminência de simular uma outra fonte qualquer de desconforto só para não ter de mandar, assim à má fila, a criatura tomar banho.
É claro que já me passou pela cabeça aproveitar esses momentos para avançar mais um degrau na escada ascendente, aquela que dizem que nos eleva até aos céus. Apelo a toda a minha paciência e condescendência, mas o facto de não poder respirar fundo atrasa um bocadinho o processo. Já pensei, inclusive, em andar com um saquinho de cheiros no bolso, ou um lenço de pano, daqueles que caíram em desuso, para levar ao nariz e voltar a ser feliz por uns instantes, mas até aqui o mais longe que fui foi levantar um dos braços e aspirar fortemente o odor da parte de dentro do cotovelo – cheira sempre a perfume. O problema é que nem sempre os nossos cheiros são tão evidentes quanto os dos outros, pelo que não tenho sido lá muito bem sucedida na minha ascensão espiritual.
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