terça-feira, 13 de novembro de 2012

Merkel

 “Já estou mais conformada. A D. deu-me força…vai, vai lá para onde quiseres…” diz ela num tom de voz afectado e cínico, com aqueles trejeitos do “eu sacrifico-me”, quando o que eu precisava de ouvir era: “não te preocupes, vai que eu fico óptima”, num tom determinado, claro, sincero. E neste entretanto anda a Merkel na visita papal! Não, papal não, presidencial. Fez-me lembrar o Salazar naquelas visitas relâmpago que fazia às então colónias portuguesas só para nos fazer acreditar que tudo estava bem, que éramos todos felizes, até mesmo as crianças e as famílias que o esperavam à saída do avião com uma espécie de pompons nas mãos, blusas brancas e saias azuis escuro.
 
Nessa altura havia muito quem acreditasse nesses tons dissimulados velados e cínicos. Tão dissimulados velados e cínicos que havia quem não lhes detetasse outra característica que não a denotativa. Havia muito quem não ouvisse sequer o que diziam as palavras quanto mais o que estava por detrás!
 
Não eu. Nunca eu, que tenho ouvidos de tísica e oiço sempre o que está para lá das palavras. Oiço os olhares, os gestos, os tons e fico aflita, responsável e aflita como se me pertencesse a árdua tarefa de transportar aos ombros a solução para todas as mágoas. As dela, não as da Merkel que essas não me dizem respeito, nem sei se as tem. Mas questiono-me se à noite, à cabeceira, lhe afluirão as mágoas do mundo. Provavelmente não. Afinal de contas tem tanto em que pensar!...

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