“Já estou mais
conformada. A D. deu-me força…vai, vai lá para onde quiseres…” diz ela num
tom de voz afectado e cínico, com aqueles trejeitos do “eu sacrifico-me”,
quando o que eu precisava de ouvir era: “não te preocupes, vai que eu fico
óptima”, num tom determinado, claro, sincero. E neste entretanto anda a Merkel
na visita papal! Não, papal não, presidencial. Fez-me lembrar o Salazar
naquelas visitas relâmpago que fazia às então colónias portuguesas só para nos
fazer acreditar que tudo estava bem, que éramos todos felizes, até mesmo as
crianças e as famílias que o esperavam à saída do avião com uma espécie de pompons
nas mãos, blusas brancas e saias azuis escuro.
Nessa altura havia muito quem acreditasse nesses tons
dissimulados velados e cínicos. Tão dissimulados velados e cínicos que havia
quem não lhes detetasse outra característica que não a denotativa. Havia muito
quem não ouvisse sequer o que diziam as palavras quanto mais o que estava por detrás!
Não eu. Nunca eu,
que tenho ouvidos de tísica e oiço sempre o que está para lá das palavras. Oiço
os olhares, os gestos, os tons e fico aflita, responsável e aflita como se me
pertencesse a árdua tarefa de transportar aos ombros a solução para todas as
mágoas. As dela, não as da Merkel que essas não me dizem respeito, nem sei se
as tem. Mas questiono-me se à noite, à cabeceira, lhe afluirão as mágoas do
mundo. Provavelmente não. Afinal de contas tem tanto em que pensar!...
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