A incapacidade de ser feliz manifesta-se no não
reconhecimento daquilo que é bom; na não aceitação do que é menos bom e na
focalização em tudo o que é mau.
Por sua vez, todas estas características possuem um corpo
físico que apesar de não residir apenas no rosto dado que existem tiques muito
subtis que lhes pertencem, é nele que mais se manifestam e podem,
consequentemente, ser identificadas.
Por exemplo, uma boca de cantos descaídos é sinal de grave
descontentamento – chamo a atenção para o facto deste tipo de manifestação,
quando usado e abusado, poder alterar as originais formas físicas transformando
uma boca de lábios definidos numa outra em forma de andorinha e de lábios quase
inexistentes. Olhos muito abertos e de olhar fixo são também sinal de pânico e
existem muitas vezes como gritos de coitado de mim, por favor, por favor,
alguém que cuide de mim, ai ai que morro, não aguento mais.
Brincadeiras à parte, manifestações como estas, e outras, fazem-me
pensar em certas “verdades” que foram crescendo connosco e nas quais não só nos
fomos habituando a acreditar como, com o tempo, deixámos de ter capacidade para
as questionar sentindo que é quase, senão mesmo, blasfémia fazê-lo. Uma delas
é, por exemplo, o facto de a vida ser uma dádiva que devemos agradecer a cada
minuto que passa. Pois que o será para uns e nem tanto para outros, com
certeza. No entanto, e curiosamente, apesar de não sermos uns verdadeiros
especialistas vivenciais, e até por pouco que apreciemos o facto de termos
nascido e estarmos vivos, continuamos com um medo de morte, da morte. Somos, efetivamente,
criaturas muitíssimo curiosas!
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