O anúncio de uma morte inesperada trouxe-me memórias tão fundas que eu nem sabia existirem. Momentos que ficam guardados sem darmos por isso e, talvez por terem sido pouco ou nada visitados, mantêm fortes as cores, as vozes, as expressões e, por vezes, até os cheiros.
São dolorosas as memórias. Mesmo aquelas que acreditamos serem boas, aquelas feitas dos melhores momentos, são dolorosas porque não passam disso mesmo – de memórias. E recordar não é viver, a não ser que se viva em sonhos.
É curiosa, muito curiosa mesmo, a forma como a vida apaga as dores e mantém as alegrias. Fá-lo de uma forma tão convincente que transforma em dor o simples passar por ela, o simples passar do tempo. Como se tudo tivesse sido bom. Se tudo tivesse feito sentido. E se tudo tivesse sido melhor, mesmo que pior, daquilo que agora é.
Quem não sente saudades de nada, não é porque não tenha vivido muito, é só porque ainda não se deu ao trabalho de viajar no tempo e recordar a substância de que é feita a sua vida.
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