É extraordinário o número, e o tipo, de porcarias que vamos
acumulando na psique ao longo da vida. Porcarias de que nem consciência, na
maior parte das vezes, temos. Anos depois, quando se manifestam, vêm disfarçadas
e passam por coisas que pouco ou nada têm a ver com a sua verdadeira origem. É
preciso tempo, paciência, coragem e alguma sabedoria para discernir as origens
dos tiques que acumulamos, muitos deles nas entranhas, porque nem se atrevem a
ver a luz do dia.
Desde miúda que tenho comigo uma necessidade que me empurra
para agradar a gregos e a troianos. Trata-se de uma força poderosa que me
exclui em absoluto da equação, mas lá tenho obedecido apesar de ficar exausta,
já que muitas vezes não me apetece nem o caminho de uns e nem o de outros. Por
mim seguiria em frente, nem que fosse sozinha. E tenho obedecido convencida
de que o faço pelo prazer que sinto em ver os outros felizes.
Perante isto posso pelo menos concluir que no meio da ignorância
fui capaz de tirar deste particular algum prazer. Já não é mau. Mas como
coragem não me falta e sabedoria também tenho alguma, lá acabei por discernir a origem de tamanho disparate. Pena é que só agora, só agora,
a idade e a experiência permitam que todos os dias uma luz se acenda. Mas vale
mais tarde do que nunca. É que esse discernimento é fundamental! Sem ele,
dificilmente se consegue o abandono de certas atitudes, de hábitos, vícios,
medos e manias que nos estreitam o horizonte, nos encolhem a alma e nos fazem
acreditar que somos isto, só isto e nada mais do que isto.
1 comentário:
esse mais tarde que nunca, por vezes é como a canção do Chico - e a leve sensação de que já vou tarde - :)
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