Se outros indicadores não existissem, bastava-me este –
estou sem água desde ontem à tarde. E não, não é um caso isolado! Desde que me
mudei, há cerca de nove meses, que este acontecimento é recorrente – volta não
volta rebenta a conduta principal aqui ou ali. Os motivos são vários mas a
chuva é fatal – se chove, rebenta. Por vezes a intervenção é rápida, por vezes é
lenta ao ponto de nos permitir uma viagem ao passado quando o país era
pobrezinho. E a viagem é tão perfeita que hoje, pelas oito da manhã, ouvi o
piquete dos SMAS a aconselhar-me a descontração (vá lá que não fez referência à
estupidez natural), com aquele tom com que se ouvia dizer “pobretes, mas
alegretes”.
Já pensei colocar uns alguidares lá fora mas temo que a
chuva não se encontre no seu melhor estado ou, pelo menos, tenha feito aquilo
que nós não soubemos fazer – deixar o passado para trás. Que é como quem diz,
enquanto andámos a brincar aos desafogados a chuva evolui no mau sentido e agora,
que podia substituir a água que corre por condutas obsoletas, deixa-nos assim,
de pé atrás com ela.
E é na consciência desta viagem de regresso, que quero
agradecer a quem de direito o facto de me ter proporcionado uns anos de vida na
ilusão de que o meu país tinha evoluido sem hipótese de retorno (há sempre uma
hipótese de retorno, está visto). Foram anos que permitiram baixar
consideravalmente a taxa de mortalidade infantil; aumentar, consideravelmente, o
número de letrados; reduzir, quase a zero, o analfabetismo; aumentar,
consideravelmente, a esperança média de vida, bem como a sua qualidade,
provando a importância da medicina preventiva. Foram anos sem faltas de água –
tirando uma ou outra ocorrência pontual e sem significado. Anos em que a escola
até funcionou, os hospitais e os centros de saúde também, bem como a maior
parte das instituições. Anos de crescimento, eu diria até, de grande
crescimento, no que diz respeito à qualidade de vida. Anos de que eu já começo
a sentir saudades porque o meu corpo treme nesta viagem de regresso ao cinzentismo
do antigamente, lugar onde eu preferia não ter de voltar porque me custa – vá lá
saber-se porquê – viver com faltas de água; com escolas degradadas; com gente
mal disposta; com doentes sem tratamentos…enfim…com coisas do passado.
1 comentário:
Minha querida, não há paciência que ature!
São fenómenos do pós-eleições!
Solidária consigo...
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