quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Está confirmado o nosso regresso ao passado.

Se outros indicadores não existissem, bastava-me este – estou sem água desde ontem à tarde. E não, não é um caso isolado! Desde que me mudei, há cerca de nove meses, que este acontecimento é recorrente – volta não volta rebenta a conduta principal aqui ou ali. Os motivos são vários mas a chuva é fatal – se chove, rebenta. Por vezes a intervenção é rápida, por vezes é lenta ao ponto de nos permitir uma viagem ao passado quando o país era pobrezinho. E a viagem é tão perfeita que hoje, pelas oito da manhã, ouvi o piquete dos SMAS a aconselhar-me a descontração (vá lá que não fez referência à estupidez natural), com aquele tom com que se ouvia dizer “pobretes, mas alegretes”.
 
Já pensei colocar uns alguidares lá fora mas temo que a chuva não se encontre no seu melhor estado ou, pelo menos, tenha feito aquilo que nós não soubemos fazer – deixar o passado para trás. Que é como quem diz, enquanto andámos a brincar aos desafogados a chuva evolui no mau sentido e agora, que podia substituir a água que corre por condutas obsoletas, deixa-nos assim, de pé atrás com ela.
 
E é na consciência desta viagem de regresso, que quero agradecer a quem de direito o facto de me ter proporcionado uns anos de vida na ilusão de que o meu país tinha evoluido sem hipótese de retorno (há sempre uma hipótese de retorno, está visto). Foram anos que permitiram baixar consideravalmente a taxa de mortalidade infantil; aumentar, consideravelmente, o número de letrados; reduzir, quase a zero, o analfabetismo; aumentar, consideravelmente, a esperança média de vida, bem como a sua qualidade, provando a importância da medicina preventiva. Foram anos sem faltas de água – tirando uma ou outra ocorrência pontual e sem significado. Anos em que a escola até funcionou, os hospitais e os centros de saúde também, bem como a maior parte das instituições. Anos de crescimento, eu diria até, de grande crescimento, no que diz respeito à qualidade de vida. Anos de que eu já começo a sentir saudades porque o meu corpo treme nesta viagem de regresso ao cinzentismo do antigamente, lugar onde eu preferia não ter de voltar porque me custa – vá lá saber-se porquê – viver com faltas de água; com escolas degradadas; com gente mal disposta; com doentes sem tratamentos…enfim…com coisas do passado.
 

1 comentário:

Majo disse...

Minha querida, não há paciência que ature!

São fenómenos do pós-eleições!

Solidária consigo...