sábado, 3 de julho de 2010

Memórias

Objectos são objectos e valem o que valem, por isso mesmo podem valer muito e tornar mais difícil a separação quando a hora chega.
Sou daquelas que acredita que quando um objecto passa connosco muitos momentos e muita vida, agarra vibrações e marcas indeléveis que, se estão ou não nos materiais não me interessa, mas estão seguramente na minha memória que é acordada cada vez que o revê.
Mesas e cadeiras de madeira, maciças e pesadas, que me acompanharam durante tantos anos; em cima das quais li e revi tantas obras, na sombra do meu jardim ou no silêncio do meu escritório, levaram com eles esses momentos e hoje, se por acaso os revejo, revejo uma parte de mim que, quer eu queira quer não, permanece com eles.

1 comentário:

Sandra disse...

Entendo-te bem. aqui em casa os objectos passam por 4 fases:

- A da exposição - que está à vista para ser observado e admirado

- A do abafamento - quando passa a ser guardado, porque já não se enquadra na "energia presente", mas que ainda não se arranjou coragem para cortar o cordão umbilical das recordações

- A da área de expedição - a cave, quando já se arranjou coragem de os colocar em sacos ou afins e colocá-los perto da porta da garagem para o adeus final, mas que ainda não se teve essa coragem, porque as recordações ainda lá estão

- A do adeus - doloroso e muitas vezes faço-o de olhos fechados ou peço ao N. para o fazer...e confesso, por vezes há lágrimas que espreitam e por vergonha se recolhem...

Do 3º para o 4º passo pode levar mais de um ano.

Claro que depois há aqueles objectos que me acompanham sempre e ai de quem ouse sequer insinuar em nos livramos deles. Tenho-os agarrados a mim como lapas que já fazem parte de mim. Esses ficarão para sempre, enquanto o sempre for o que defini para eles claro.
;)