terça-feira, 19 de outubro de 2010

Dos lucros de certas Empresas e da sua desigual repartição

Os privilegiados deste país não se reconhecem como tal. Presos ao seu umbigo sentem que trabalharam toda a vida, e não duvido que o tenham feito; que estudaram mais do que os outros, e não duvido que o tenham feito; e que, portanto, têm direito à disparidade de ganhos existente entre eles e «os outros».
Esquecem-se, contudo, que sem «os outros» não os poderiam ter obtido e esquecem-se ainda que se no fim de cada ano distribuíssem os lucros das empresas de uma forma mais equitativa, provavelmente teriam trabalhadores mais empenhados, mais felizes e mais dispostos a produzir mais, aumentando, dessa forma, a possibilidade de competir com os mercados internacionais, objectivo que tanto ambicionam e tão necessário é, pelos vistos, à nossa salvação.
Esquecem-se que, se sempre o tivessem feito, se calhar não estávamos como estamos. Esquecem-se que se, mesmo a reboque da crise mundial, estivéssemos como estamos hoje, talvez até pudessem agora baixar os salários – os «dos outros» e os deles evidentemente, porque provavelmente os trabalhadores estariam mais dispostos aos tais sacrifícios que agora lhes são pedidos porque teriam sempre no seu horizonte a justa repartição dos lucros a que estariam, justamente, habituados.
Mas acima de tudo esquecem-se que, se estudaram mais do que «os outros» e se chegaram onde chegaram, ainda que trabalhando, é porque já eram, à partida, privilegiados. Porque num país como o nosso as oportunidades, se não são ainda hoje, não foram de todo, durante muitos anos, iguais e que, se eles trabalham muito, há «outros» que trabalham, suam e sofrem muito mais, e que talvez seja por isso que a produtividade é o que é.
Ao invés de nos dizerem que é necessário produzir mais para depois distribuir os lucros de forma equitativa, distribuam-nos primeiro. Talvez a produtividade cresça.
A uma sociedade que estava habituada a ter tão pouco e a quem fizeram acreditar que podia ter quase tudo, não podem agora tirar esse «quase tudo» sob pena de transformar este pequeno país num grande manicómio.

2 comentários:

Sandra disse...

Subscrevo...infelizmente...

Sputnick disse...

Ok, no próximo encontro canteremos - de pé ó vítimas da fome... and some ... :)