domingo, 24 de outubro de 2010

À geração dos trinta que nunca tive por rasca. Ao André Valentim Almeida e ao documentário «Uma na Bravo outra na Ditadura»

Posso estar enganada mas parece-me que entre os 30 e os 40, mais precisamente quando se entra nos 30, as pessoas tendem a fazer balanços à laia de despedida que é para o que servem os 10 anos que os separam dos entas.
Inevitavelmente esses balanços visam as vitórias e as derrotas; as responsabilidades e as oportunidades, ganhas ou perdidas. E, nesse arrastar de razões e des-razões, vem sempre à baila a geração anterior, aquela que nos legou isto e aquilo, de bom e de mau, quase sempre de pouco… nunca, aos olhos dos filhos, os pais fizeram o suficiente muito pelo contrário, fizeram merda pela certa porque senão eles estariam muito melhor do que estão.
Eu estava quase a bater nos entas, faltariam talvez três ou quatro anos, quando decidi «cobrar» da minha mãe o que «havia para cobrar»; desprestigiar o mais possível a geração que me antecedeu olhando-os como incapazes e ignorantes, uma cambada de carneiros!...e por aí fora que, logo a seguir, se o arrependimento matasse eu tinha caído naquela hora sem ter tempo de dizer ai! Ainda não tinha acabado de «despejar» o que me ia na alma e já um nó no peito ameaça parar-me o coração.
É claro que, antes de mim, já eles, os meus progenitores e outros como eles tinham, se não feito, pelo menos sentido e pensado o mesmo em relação àqueles que os trouxeram ao mundo e os educaram. É mesmo assim, se assim não fosse seria sinal de inexistência de evolução e de crescimento, seja lá isso o que for…
Mas vem isto a propósito de uma série de zunzuns que para aí andam e que visam a minha geração, já que foi ela que deu à luz as criancinhas que nasceram encostadas ao 25 de Abril ou alguns anos depois, enfim, a geração dos que dobraram agora a barreira dos 30.
Meus queridos, se vocês se sentem defraudados imaginem nós! Imaginem aqueles que foram educados desde a mais tenra infância numa verdade incontestável para depois e de repente, a meio da juventude, lhes dizerem que afinal era tudo mentira!
Mas há uma coisa que eu percebo perfeitamente. É que nós já tivemos o nosso protagonismo, afinal de contas vivemos uma revolução!... Agora chegou a hora do vosso. Falem sobre vós; contem a vossa História; insultem e apontem dedos mas, fundamentalmente, olhem à vossa volta com olhos de ver e deliciem-se com a oportunidade que têm de mostrarem o que valem. Esta é a época da consolidação ou da ruptura e são vocês que a têm, ou podem ter, na mão. Vocês são hoje mais velhos do que eu era aquando do 25 de Abril! Mexam-se. Mudem! Endireitem esta merda. E não me venham cá dizer que estamos agora a empurrar para cima de vocês a merda que fizemos! Fizemos o que fomos capazes de fazer e foi, sem dúvida, mais do que aquilo que nos legaram a nós! Façam o mesmo na certeza de que, ainda assim, hão-de ouvir das gerações vindouras o mesmo que nós e outros antes de nós.
Se me piquei?! Piquei-me sim senhor! Não se nota?!

3 comentários:

CF disse...

Lol. Bom remate, num texto excelente :)

Sputnick disse...

Amiga, chegou-te mesmo a mostarda ao nariz, fica assim até 5ªfeira, que quero fotografar-te assim - danada!!! :):)

Goldfish disse...

Eu, que também me pico, digo-lhe o mais honestamente possível: é que não sei que saída há para esta merda toda (e desculpe a rudeza), porque se estando numa ditadura podemos (é fácil, até) depositarmos as nossas esperanças numa democracia, eu continuo a crer na democracia e não sei em que ou em quem depositar alguma fé, nem em mim mesma! E, pelo menos no que me diz respeito, não acho que foi só a sua geração - a dos meus pais, também - que não fez o que devia, foram gerações e gerações a tentar lidar com as circunstâncias do que, por sua vez, herdaram.