domingo, 18 de setembro de 2011

Intelectualidades

Há uma coisa que me irrita sobremaneira e cada vez mais – esta tendência que os intelectuais do nosso tempo, professores, historiadores e até investigadores têm para serem, ou papagaios das palavras de outros que falaram antes deles, ou críticos dessas mesmas palavras, mas críticos dos que se limitam à crítica, incapazes de qualquer verdadeira mais-valia.

Eu sei que parte do conhecimento é construído a partir de obras já existentes e que é estúpido, e uma enorme perda de tempo, andar em cima dos passos que outros já percorreram. Daí que é fundamental saber quem é que já fez o quê. A questão é saber quem é que pega nas pontas e desenvolve, realmente, préstimos que não se fiquem pelas ideias, que por vezes são as mesmas com outras formas.

Desculpem. Ando cansada de papagaios e farta da gigantesca falta de imaginação que grassa em certas classes que se dizem estudiosas. Gente que menospreza qualquer tipo de conhecimento que não tenha sido adquirido a ler aquilo que foi a experiência dos outros. O conceito de tábua-rasa tem, na minha opinião, de ser erradicado – não é realista acreditar que um ser humano esqueça tudo aquilo que aprendeu com a experiência vivida, quer ela seja grande ou pequena. O desprezo pelo senso comum é prejudicial e, tal como um artista tem toda a vantagem em ouvir a opinião de um leigo acerca da sua arte, um investigador, especialmente se operar em áreas humanas, tem de ter em consideração o conhecimento “desarrumado” do senso comum.

Deixo-vos com um parágrafo da autoria de Maria Teresa Estrela na Revista Portuguesa de Educação:

“Nos tempos actuais, em que correntes do pensamento, de origem e natureza vária, tendem a pôr em evidência o valor da linguagem enquanto processo de construção e limite do nosso mundo e em que as ciências sociais tendem a desvalorizar a ordem dos factos para se constituírem, na expressão de Boutinet (1985), em ‘acto de palavra sobre a palavra dos outros’, começa a ser difícil a distinção nítida entre a ordem das coisas e dos eventos e a ordem das representações e intenções.”

Interpretem-no como entenderem.

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