Sou uma besta. Deixei passar o Julho e o Agosto sem pôr os pés na praia.
Não que tivesse estado um Verão inesquecível, que não esteve, mas houve bons dias de praia, e eu em vez de os aproveitar estatuifiquei-me a carpir mágoas, desgraças e infortúnios, convencida que me estavam vedados todos os momentos de descanso e lazer – quem é que merece descanso quando tudo à volta se desmorona?!
Foi ela, a velha, recôndita e lúgubre vontade de me penalizar, dentro da máxima – mea culpa, mea maxime culpa, a responsável pela miséria de vida que levei durante estes dois meses. Quem é que, em seu perfeito juízo e a viver a três minutos das melhores praias do país, se deixa ficar em casa?!
Agora, resolvidas que estão as situações mais prementes, prometida que está a bem-aventurança, despertou-me a realidade de um ano inteiro sem sol, sem banhos de mar, sem passeios, sem iodo e sem vitamina D que é como quem diz, sem paliativos para as dores disto e daquilo - os ossos a protestarem! os tendões a protestarem e a tristeza a acomodar-se na quantidade de meses que ainda nos separam da próxima oportunidade…e rumei à praia na quarta-feira fazendo contas de cabeça a três diazinhos, assim seguidos, que é melhor do que nada.
Hoje a bandeira vermelha exibia-se mais pela falta de visibilidade do que pelas correntes, que o mar até nem estava bravo, e dizia-me o arrumador, pouco depois das dez da manhã - Isto vai levantar! - O senhor acha?! – Eu não acho! Eu tenho a certeza!
Foi a acreditar nas palavras deste entendido que, perdida num cenário sebastiânico e de pernas imersas numa água quase morna, passei a manhã à espera do sol. Esse, lá continuou mascarado, mesmo à minha frente, de pálido círculo escondido por detrás do nevoeiro.
Cerca das onze e meia começou a levantar-se uma brisa que obrigou a humidade a entranhar-se nos ossos, mas nem eles nem os tendões, que me têm azucrinado o juízo ultimamente, me agradeceram, por isso ainda não era meio-dia quando decidi subir a falésia.
Cá a cima já o nevoeiro tinha chegado. Resta saber se continua a subir ou se se espalha. Se subir pode ser que ainda seja uma boa tarde de praia. Eu… vou trabalhar.
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