segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Ser velha

Não sei se quero ser velha. Ter de me arrastar por corredores no assombramento da memória.

Não sei se quero ser velha. Não sei se saberei aceitar a perda do que foi e o ganho do que será. Não sei se saberei, até lá, preparar o meu espírito para todas as provações.

Não quero ser um trapo velho que se mantém por piedade. Um fardo. Um dever. Sei lá eu se sou amada! Ou se serei, nessa altura! Sei lá eu! Sei de quem amo, o que é já uma glória, que muitos nem disso sabem.

Hoje vi-a gritar por ser cega. Não vejo nada, queixa-se ela. E grita! Não grite que assusta as pessoas! Não é com vinagre que se apanham moscas. Mas ela quer lá saber disso! Ela não quer apanhar ninguém, quer apenas aquilo a que tem direito – alguma companhia enquanto ali está, já que é obrigada a estar porque o que ela queria mesmo era ir para a cama. Também eu, confesso. Há lá melhor sítio para se estar com este frio, este nevoeiro!

Mas isso é que não pode ser, diz-lhe a terapeuta. Cama é que não! E é tudo o que ela quer – deitar-se. Deitar-se e esquecer, nada mais.

Não sei se quero ser velha. Perdem-se tantos direitos, com a velhice! Quem é que se importa realmente com o que um velho, mesmo velho, quer?!

Não sei se quero ser velha.

3 comentários:

CF disse...

Sabes sabes. Sabes que não queres, tal como ninguém quer. Mas pela minha parte, gostaria muito que lá chegasses, plena das tuas capacidades. Acho que vais ser uma velha daquelas :):)

Alda Couto disse...

LOL :):) A ver vamos, como dizia o ceguinho :):)

Sputnick disse...

Eu também quero ver :)))))