sábado, 16 de fevereiro de 2013

O que por cá fica quando partimos


A quantidade de obras que vamos deixando pelo caminho é notável. Fundamentalmente daqueles que por cá andaram o tempo suficiente para as ir acumulando.

É certo que nem todos fazemos questão de “fazer coisas”. “Coisas” como construir casas ou escrever livros. Mas basta, contudo, rodearmo-nos de vida para estarmos, mesmo sem darmos por isso, a “fazer coisas”.

Eu estou prestes a mudar de casa. Nos últimos cinco anos é a terceira vez que o faço e em cada uma delas entro como se nunca mais de lá fosse sair – arranjo-a à minha maneira; pinto-a; decoro-a; adapto os móveis ao espaço. Nem que seja por um ano! É isto a vida. É esta a construção. Ainda que nos doa depois a partida. Ainda que nunca mais se lembrem de nós porque quem vem a seguir faz o mesmo – adapta a si aquela casa e apaga, ou vai apagando ao longo do tempo, os vestígios que por lá deixámos.

Ainda assim, há marcas indeléveis. Marcas que ficam entranhadas nas paredes; nos muros dos quintais; nos degraus das escadas. Marcas dos passos de cada um; das mãos que ao subirem as escadas se apoiaram nas paredes. Memórias escondidas das vozes; das zangas; dos dias felizes. E, sobretudo, ficam as fotos para provar que tudo aquilo existiu, que não foi um sonho. Existiu. É nosso. Um pequeno fragmento da nossa vida. Uma marca que um dia alguém, no meio de todas as invenções, conseguirá desvendar.

1 comentário:

CF disse...

Mudanças, são sempre mudanças. Servem também para consciencializarmos a obra que deixamos, e que por vezes nem vimos. Sorrisos para ti :)) E boas mudanças. Mesmo... :))))