A quantidade de obras que vamos deixando pelo caminho é
notável. Fundamentalmente daqueles que por cá andaram o tempo suficiente para
as ir acumulando.
É certo que nem todos fazemos questão de “fazer coisas”. “Coisas”
como construir casas ou escrever livros. Mas basta, contudo, rodearmo-nos de
vida para estarmos, mesmo sem darmos por isso, a “fazer coisas”.
Eu estou prestes a mudar de casa. Nos últimos cinco anos é a
terceira vez que o faço e em cada uma delas entro como se nunca mais de lá
fosse sair – arranjo-a à minha maneira; pinto-a; decoro-a; adapto os móveis ao
espaço. Nem que seja por um ano! É isto a vida. É esta a construção. Ainda que
nos doa depois a partida. Ainda que nunca mais se lembrem de nós porque quem
vem a seguir faz o mesmo – adapta a si aquela casa e apaga, ou vai apagando ao
longo do tempo, os vestígios que por lá deixámos.
Ainda assim, há marcas indeléveis. Marcas que ficam
entranhadas nas paredes; nos muros dos quintais; nos degraus das escadas.
Marcas dos passos de cada um; das mãos que ao subirem as escadas se apoiaram
nas paredes. Memórias escondidas das vozes; das zangas; dos dias felizes. E,
sobretudo, ficam as fotos para provar que tudo aquilo existiu, que não foi um
sonho. Existiu. É nosso. Um pequeno fragmento da nossa vida. Uma marca que um
dia alguém, no meio de todas as invenções, conseguirá desvendar.
1 comentário:
Mudanças, são sempre mudanças. Servem também para consciencializarmos a obra que deixamos, e que por vezes nem vimos. Sorrisos para ti :)) E boas mudanças. Mesmo... :))))
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