Rodeados de muros, portões e arames não temos como fugir das
estradas sem passeio, estradas que vivem como se nós não existíssemos, estradas
de automóveis grandes, médios e pequenos, de motociclos a motor, só a motor
porque sem ele não existe escapatória. Estradas sem passeios. Campos vedados. Caminhos
fechados.
Vivemos no campo sem dele podermos desfrutar porque tudo o
que nos rodeia a alguém pertence. Não existem praças públicas aqui, neste
lugar. Só propriedades. Grandes propriedades na maioria dos casos mas até as
pequenas se rodearam de muros e fecharam as cancelas. Será medo? sovinice?
Antigamente as áreas rurais eram obrigadas a ter caminhos entre propriedades.
Chamavam-se serventias. Hoje adentra-se uma e recua-se ao fim de alguns metros,
muito poucos – o caminho está vedado. O caminho que nem caminho é já. Mais do que
coberto de vimes, de folhas, de lixo arremessado que por vergonha se vai
escondendo debaixo do manto ainda verde, nem caminho é já. Os vimes, de tão
altos, formam uma espécie de túnel que não demorará muito a esconder o sol. E
isto nuns escassos metros!
Há algo neste lugar que me faz lembrar o caciquismo. Um
caciquismo decadente, escondido atrás de muros, a viver no meio de uma vastidão
de terras por arar, onde as ervas daninhas crescem e só os malmequeres e as papoilas
se mostram capazes de contrariar a miséria que das janelas as olham e pensam,
meu Deus, se aquela terra fosse minha!
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