Fazes sempre o que te apetece, disse ele num tom descontraído
depois de me ter tentado seduzir com programações antecipadas e eu lhe ter
respondido que claro! Se me apetecesse. Até porque amanhã será o dia, o único
da semana, em que eu farei questão de fazer o que me apetecer. Fazes sempre! Atirou
ele, sorrindo, bem-disposto.
Não é verdade. Não é verdade que faço sempre o que me
apetece. Quem me dera! Mas é verdade que nunca, ou quase quase nunca, faço o
que não me apetece. Não faço sacrifícios, por ninguém. Não me violento. Não
faço favores. Tudo o que faço faço com gosto, mesmo que seja para outros. Especialmente
se for para outros. Sendo claro que os outros não serão quaisquer uns.
Não faço sacrifícios. Não acredito em sacrifícios. Quem os
faz, cedo ou tarde os cobrará e eu não quero que ninguém me fique a dever coisa
nenhuma. Posso não conseguir tudo o que quero, mas tudo farei para chegar a um
final feliz.
Não faço sempre o que me apetece, é verdade. Mas faço quase
sempre. E quando não o faço, tento. E quando não consigo, fico pior que
estragada e não espero para cobrar, cobro imediatamente, não vá a coisa azedar
como vejo que acontece a tanta gente por aí – velhos azedos, arrependidos,
frustrados. Eu, hem!
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