Já tive três tias e um tio-avô.
O tio-avô conheci-o já tarde. Já eu era mãe e só não me
tinha cansado de o ser porque a gente nunca se cansa de uma coisa dessas. Irmão
de uma avó que nunca conheci, o que aguçou ainda mais a vontade de o encontrar e
de saber dela, procurei-o incitada pelo meu avô que me dizia igual à falecida. Provavelmente por isso é que me olhava de lado sem nunca me ver realmente, por medo de a reencontrar e de voltar a apaixonar-se. As pessoas têm destas coisas, destes medos, enfim.
Mas o homem pareceu ter estado só à espera disso mesmo – de ser
encontrado. Após duas visitas, e longas horas de aventuras em que a minha precocemente
falecida avó nem participou, foi-se, tão rápida e misteriosamente como tinha
vindo, foi-se – desta vez para um lugar onde dificilmente o poderei vir a re-encontrar,
até porque se diz que só re-encontraremos quem quisermos mesmo e ele não teve
tempo de me marcar para esse querer. Prefiro, como sempre preferi e procurei,
encontrar a meia-irmã de quem ele não chegou a contar nada – a avó que nunca
conheci.
Quanto às minhas tias, essas envolveram-me sempre nos seus
braços à medida que fui crescendo. Agraciaram os meus filhos. Riram-se e choraram
comigo. Deram-me cinco primos e muitos conselhos.
Essas, as três queridas irmãs da minha mãe, são a minha
família, os meus genes, as minhas origens. Um bocadinho delas habita em mim e a
última despediu-se ontem da vida, deixando a minha mãe carregar o peso de todas
as lembranças chegadas já aos bisnetos.
Ontem, sentada em frente ao caixão onde descansa, relembrei
os bons momentos, que são aqueles que devemos relembrar quando alguém parte, sorri
um pouco nessas lembranças com pena que ela não tenha chegado a conhecer a
sobrinha bisneta que está para vir, mas pensei que ainda assim conheceu
bisnetos, os dela. A mesma sorte não tiveram as duas irmãs que a antecederam na
partida.
Hoje, vamo-nos despedir por tempos longos, é o que se espera.
E vai ser duro como são todas as despedidas que se sabem prolongadas ou se
temem definitivas.
Que descanse em paz.
1 comentário:
( um beijinho...)
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