Há muito quem pense, e sinta, que os cães, como animais que
são, devem ser selvagens, livres, autónomos, e que a nós, humanos, cabem as
culpas das extraordinárias alterações infligidas ao seu meio natural, o que não
deixa de ser verdade (esta última parte, evidentemente) – aliás, ao meio
natural de todos nós, animais.
Contudo, poucos sabem, e pouco se sabe ainda, da história
que uniu cães e humanos. Sabe-se que é milenar e que começou, com uma boa dose
de certeza, como uma parceria de sobrevivência – os homens caçavam e os
cães/lobos seguiam-lhes as pegadas e esperavam, pacientemente, pelos restos.
Com o tempo, ao que parece, os canídeos foram-se aproximando mais e mais e,
talvez por amizade, começaram a olhar os humanos nos olhos como nunca animal
nenhum o fez até hoje. Nem os primatas que se dizem nossos antepassados são
capazes de tal contacto, de tal proeza, de tal entrega.
A bem dizer, não fomos nós que os domesticámos, foram eles
que se domesticaram e nos domesticaram, também, a nós. Esta relação milenar, tão
próxima e única entre espécies tão diferentes, ensina-os a eles e ensina-nos a
nós.
Dizer que eles são mais felizes na liberdade da rua,
expostos a todos os perigos inerentes a tal liberdade, é o mesmo que dizer que
os sem-abrigo estão bem, que são felizes, equilibrados, completos.
Em Portugal, o país que gosta de apregoar ter sido o
primeiro a acabar com a pena de morte mas que foi o último a extinguir a
inquisição, os animais não têm direitos rigorosamente nenhuns. Para os
portugueses, felizmente não para todos, os cães são objetos que podemos
ignorar, maltratar, abandonar, sem que daí advenha qualquer tipo de punição. E
isto é atraso. Não conheço as leis dos países que agora já não são do “terceiro
mundo” mas de um mundo “em desenvolvimento”, mas temo bem que sejam iguais às
nossas no que a esta matéria diz respeito.
Um cão que ande na rua pode ser envenenado, pode comer,
porque come geralmente, todo o tipo de porcarias que o adoecem, pode ser
atropelado, roubado, pontapeado. Um cão que viva na rua está sujeito a passar
fome, a ser devorado por parasitas dos quais não sabe, nem pode, defender-se.
Um cão que ande na rua adoece mais do que os outros e morre mais depressa, tal
e qual como nós.
Para aqueles que querem um amigo, um guarda, um companheiro,
fiquem a saber que um bom guarda é dentro de casa que está. Num quintal
qualquer ladrão o seduz com alimentos envenenados e lá se vai a guarda. Se
querem um cão de guarda, estimem-no, acolham-no, aceitem-no como amigo porque
não é todos os dias que alguém nos olha como nos olha um cão que nos escolheu
para amar.
1 comentário:
:)
( e o novo membro, como vai de saúde??)
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