quinta-feira, 23 de maio de 2013

Dos cães e dos homens

Há muito quem pense, e sinta, que os cães, como animais que são, devem ser selvagens, livres, autónomos, e que a nós, humanos, cabem as culpas das extraordinárias alterações infligidas ao seu meio natural, o que não deixa de ser verdade (esta última parte, evidentemente) – aliás, ao meio natural de todos nós, animais.
Contudo, poucos sabem, e pouco se sabe ainda, da história que uniu cães e humanos. Sabe-se que é milenar e que começou, com uma boa dose de certeza, como uma parceria de sobrevivência – os homens caçavam e os cães/lobos seguiam-lhes as pegadas e esperavam, pacientemente, pelos restos. Com o tempo, ao que parece, os canídeos foram-se aproximando mais e mais e, talvez por amizade, começaram a olhar os humanos nos olhos como nunca animal nenhum o fez até hoje. Nem os primatas que se dizem nossos antepassados são capazes de tal contacto, de tal proeza, de tal entrega.
A bem dizer, não fomos nós que os domesticámos, foram eles que se domesticaram e nos domesticaram, também, a nós. Esta relação milenar, tão próxima e única entre espécies tão diferentes, ensina-os a eles e ensina-nos a nós.
Dizer que eles são mais felizes na liberdade da rua, expostos a todos os perigos inerentes a tal liberdade, é o mesmo que dizer que os sem-abrigo estão bem, que são felizes, equilibrados, completos.
Em Portugal, o país que gosta de apregoar ter sido o primeiro a acabar com a pena de morte mas que foi o último a extinguir a inquisição, os animais não têm direitos rigorosamente nenhuns. Para os portugueses, felizmente não para todos, os cães são objetos que podemos ignorar, maltratar, abandonar, sem que daí advenha qualquer tipo de punição. E isto é atraso. Não conheço as leis dos países que agora já não são do “terceiro mundo” mas de um mundo “em desenvolvimento”, mas temo bem que sejam iguais às nossas no que a esta matéria diz respeito.
Um cão que ande na rua pode ser envenenado, pode comer, porque come geralmente, todo o tipo de porcarias que o adoecem, pode ser atropelado, roubado, pontapeado. Um cão que viva na rua está sujeito a passar fome, a ser devorado por parasitas dos quais não sabe, nem pode, defender-se. Um cão que ande na rua adoece mais do que os outros e morre mais depressa, tal e qual como nós.
Para aqueles que querem um amigo, um guarda, um companheiro, fiquem a saber que um bom guarda é dentro de casa que está. Num quintal qualquer ladrão o seduz com alimentos envenenados e lá se vai a guarda. Se querem um cão de guarda, estimem-no, acolham-no, aceitem-no como amigo porque não é todos os dias que alguém nos olha como nos olha um cão que nos escolheu para amar.

1 comentário:

CF disse...

:)

( e o novo membro, como vai de saúde??)