domingo, 4 de julho de 2010

Da dor de não poder Ser

São muito marcantes e dolorosos os estigmas que a sociedade imprime a certas pessoas, nomeadamente aos homossexuais. As alterações nas leis são um começo mas não o suficiente para a sua aceitação no seio de uma sociedade que, na verdade, os teme, não sei bem porquê.
Tenho dois amigos que se amam. São um casal em toda a acepção da palavra; tiveram a felicidade de se encontrar depois de tantos anos de sofrimento, porque esconder quem realmente somos ao longo de uma vida causa sofrimento, e que, apesar de todas as leis, se vêem obrigados a manter o seu anonimato até que a coragem de mandar tudo às urtigas os tome, já que, de facto, quem não aceita este ou aquele por via das suas opções íntimas não merece o epíteto de amigo. Contudo, o seu maior receio prende-se com a profissão de cada um; Se nos descobrem, dizem, corremos o risco de despedimento, de ostracismo.
Não durará muito mais, digo eu, espero eu, que é já tempo de sair desta mediocridade, desta desumanidade, deste atraso civilizacional; desta subjugação à educação judaico-cristã que muito, ou tudo, contribuiu para as frustrações do mundo e, mais grave ainda, para as suas taras.
No que à sexualidade diz respeito, temos tudo misturado na nossa cabeça e não raro associamos pedofilia com homossexualidade quando, atrever-me-ei a dizer, a pedofilia grassa mais entre heterossexuais do que entre homossexuais e, essa sim, é uma tara, uma doença perigosa porque causadora de danos irreversiveis.
A homossexualidade é uma condição que pode existir no seio da mais séria, da mais humana, da mais competente e da melhor das pessoas. A homossexualidade, como a heterossexualidade, só a cada um diz respeito e é tempo de nos libertarmos de falsos valores e de fazermos uma introspecçãozinha acerca do porquê de tanto medo. Porque raio é que há quem se sinta ameaçado?!...

3 comentários:

CF disse...

Sou mais pessimista. Acho que estamos longe desse fim de discriminação, exactamente pela educação. Espero estar enganada...

sandra disse...

Começa em casa com a educação. Vou contar algo muito pessoal e que reflecte bem a mentalidade tacanha que nos rodeia. A minha filha I., não gosta nem nunca gostou de brincar com bonecas, gosta de desporto, livros e puzles. Nunca contrariei essa vontade (nem tenho porque a contrariar, se não gosta, nao gosta, por esse motivo sempre se enquadrou mais nas brincadeiras dos com rapazes do que na das raparigas. Este ano entrou para o 1º ciclo e na 1ª reunião de pais, foi tema de conversa o facto da I. não gostar de brincar com as meninas, como se isso fosse um problema ou juma aberração. Valeu a fantástica professora que em meia duzia de palavras passou um "atestado de burrice" a todos para meu deleite.
Eu, nem me incomodei com tais comentários, comprovando-me apenas a pequenez das pessoas.
Tenho uma filha fantástica e maravilhosa, com um interior e uma alma enormes, que é o meu orgulho.
;)
sandrablogwithaview

Goldfish disse...

Eu já me apercebi que há quem considere a homossexualidade um crime, como se houvesse um prejudicado, nem que esse prejudicado seja a sociedade (o prejudicado não será, certamente, um dos dois adultos que de livre vontade e de acordo com o que sentem, vivem a sua vida conforme querem). A mentalidade judaico-cristã pode muito, ainda. E, para mim, a única forma de essas pessoas (algumas, pelo menos) mudarem de opinião é serem confrontadas com ela em pessoas muito, muito próximas.

À Sandra: eu era muito maria-rapaz, sempre me dei bem em brincadeiras e jogos em que mais nenhuma menina aceitava participar. Apesar de detestar futebol. E confirmo que isso nada quer dizer quanto à nossa futura "escolha" sexual.