Ontem durante o programa Prós e Contras lembrei-me do Estado Novo, de Salazar e da expressão “pobretes mas alegretes”.
Não que não tenha compreendido o que o padre quis dizer. Compreendi perfeitamente e também sei, ou imagino, que nada semelhante ao Estado Novo lhe passou pela cabeça. A questão é: quantas foram as pessoas que compreenderam?, à parte aquelas que “sentem” que, se queremos seguir o caminho da humanização, teremos de reduzir substancialmente a importância que dedicamos ao consumo – o “ser” em substituição do “ter” – há anos que oiço falar disto!
Os portugueses já foram pobres, a grande maioria pelo menos. Não estas gerações que nasceram nestes anos gloriosos mas as mais antigas, as mais cansadas. Já foram pobres. E ignorantes.
À excepção da URSS não conheço mais nenhum país onde um povo pudesse ter sido pobre e culto ao mesmo tempo. Mas que sei eu?! Pode ser que sim. Que haja mais…Não Portugal! Para além de “pobretes mas alegretes” fomos também “orgulhosamente sós”, e ninguém “orgulhosamente só” evolui.
Talvez que a questão aqui seja o terrível desconforto de estarmos a caminhar para um Brasil que está, por sua vez, a deixar de o ser; o terrível desconforto feito das crescentes desigualdades.
Porque ser pobre, ou remediado, não é vergonha quando um povo está verdadeiramente unido e empenhado em deixar, verdadeiramente, de o ser. Eis aquilo que nós nunca fizemos! Ninguém deixa de ser pobre com o dinheiro dos outros! E ninguém pode exaltar as virtudes da pobreza quando come, bebe, estuda e tem saúde porque a pode pagar.
Talvez o erro esteja no termo – pobre -, talvez seja preciso inventar um outro termo qualquer, que não “pobre” ou “remediado” – são deprimentes e nós não precisamos de mais depressão. Porque não “singelo”? singelo, simples…
E agora saíamos da UE. E agora redistribuíamos a riqueza que por cá habita nas mãos de alguns (atenção que teríamos de o fazer antes que eles fugissem, por exemplo, para o Brasil). E agora desatávamos a lavrar a terra e voltávamos a cultivar os nossos próprios alimentos. E agora empenhávamo-nos todos na construção de um país.
E depois, só depois, voltaríamos a exigir aquilo com que sonhámos tantos anos e para o qual estendemos as mãos vazias e ávidas – o sistema nacional de saúde; os subsídios e as reformas e até, quem sabe, a semana-inglesa. Porque um patrão, se quer levar a sua empresa adiante, não tem dias marcados para o descanso.
Temos é de saber explicar isto muito bem explicadinho às gerações mais novas. Àquelas que cresceram a acreditar que nasceram num país desenvolvido, moderno, farto. Às que cresceram sem saber o que é o “espírito de sacrifício” – outra máxima do Estado Novo.
Se formos a ver bem, nem tudo esteve mal, como nem tudo está mal agora. Depende daquilo que cada um de nós for capaz de fazer. A História pode ajudar. Tiramos umas coisas daqui, outras dali e pode até ser que cheguemos a algum lado. Eu quero acreditar que sim. Só não sei é se o conseguiremos mantendo as mesmas dependências e acordos que temos mantido até aqui…
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