Ligavam-nos
músicas como Cocaine ou After Midnight que ouviamos muitos decibéis acima do
recomendável ainda antes de entrarmos no recinto do 2001, no Autódromo do Estoril.
Não tinha rosto porque não eram dele as performances. Só tinha nome. À época
não existiam computadores e os poucos canais de televisão, nacionais como eram,
não transmitiam essas músicas malucas que a malta nova gostava de ouvir.
Ficávamo-nos, assim, com as fotos que conseguiamos encontrar em revistas como “Salut
les Copains”, que nem todos liam porque não trazia uma palavra em português e o
francês era, à semelhança do que continua a ser para muita gente, uma dor de cabeça
- não para mim, registe-se -, ou pelas capas dos álbuns onde se exibiam os
músicos mas não os compositores. Esses eram nomes, e o dele ficou na memória por
ter sido muito bem escolhido. Quem o fez sabia da poda.
Ora um nome sem
rosto, principalmente um nome que cria sons como os que vibram no mais profundo
de nós, facilmente se transforma num mito. São os
rostos que nos humanizam. Um homem sem rosto pode muito bem ser um deus.
Morreu no
sábado, aos 74 anos. A sua foto circula agora pela Internet, exibindo toda a
sua humanidade. E foi a olhar para essa humanidade que me comovi com uma das
suas mais dignificantes características – a humildade. Aqui está um homem,
pensei eu, que viveu para nos enriquecer, sempre, ou quase sempre, escondido
atrás dos panos que separam os bastidores das luzes da ribalta, e foi feliz.
J.J. Cale, aqui.
1 comentário:
JJ Cale e 2001. Excelente :)
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