quinta-feira, 24 de maio de 2012

Knight Rider


Exausta, deixei-me ficar de cotovelos colados à mesa e olhar preso ao écran onde o Michael Knight pedia ao Kitt que perscrutasse bem uns estúdios quaisquer onde um fantasma, qual o Da Opera!, fazia de tudo para boicotar as filmagens, e a estrela, de cabeleira loura exageradamente anos 80, rapidamente deitava por terra a arrogância que só uma estrela carrega, para ajudar um Knight na demanda da captura do terrível fantasma.

Muito a custo lá me arrastei para o sofá. Puxei o manipulo da espreguiçadeira e deixei-me ficar, esticada, inerte, de olhar preso ao écran onde uns velhos jogavam às cartas encostados ao Kitt e não achavam nada estranho que o carro, não só lhes respondesse, como ainda tivesse a amabilidade de os ir ajudando, ora a um ora a outro, a levar a bom termo a jogatina.

Nisto, tocou o telefone. Muito a custo, lá me levantei, que é como quem diz, lá me estiquei o necessário para alcançar o aparelho, e atendi. O mais imobilizada possível, disse tudo o que tinha a dizer, ouvi tudo o que tinha a ouvir e desliguei, abandonando no braço do maple o telefone que ali se deixou ficar, tão inerte quanto eu.

Talvez tenha passado pelas brasas. Num momento o Kitt estava… noutro já não. Nem Kitt, nem Knight. Ligeiramente quebrada a inércia, estendi a mão para o comando e carreguei na tecla, para cima…nada aconteceu! Pronto, pensei para comigo, lá se foram as pilhas. Carreguei no número um…nada. 

Continuei o mais inerte possível. O meu estado, a quem de fora, poderia eventualmente assemelhar-se ao catatónico. Prestes a ter de suportar a programação da RTP memória, aquela que não é o Kitt, continuei a carregar nos botões do comando que continuou a não afetar em absolutamente nada o que se passava no écran à minha frente.

Decidi trazer o comando para o meu ângulo de visão. Num mostrador podia ler-se: Cândida! Carreguei na tecla vermelha para que o nome desaparecesse do visor e voltei a insistir na tecla do número 1. Nada. A Grande Noite ameaçava começar. O Baião já estava prontinho no meio daqueles panos encarnados que nos palcos do La Féria ameaçam abrir mas abrem só mais ou menos.

Voltei a olhar o comando que tinha na mão. Agora sim! Agora via-o! Maneirinho, prata e preto, com um pequeno visor onde os nomes por mim registados aparecerem sempre que ele toca, ou que alguém cá de casa resolve ligar para um deles. Pousei-o no braço do maple. Estendi o meu até ao móvel de apoio e peguei, como quem não quer a coisa, no verdadeiro comando para, finalmente, me despedir do Baião.

1 comentário:

Goldfish disse...

São os 54 a atacar! ;)