Exausta, deixei-me ficar de cotovelos colados à mesa e olhar
preso ao écran onde o Michael Knight pedia ao Kitt que perscrutasse bem uns
estúdios quaisquer onde um fantasma, qual o Da Opera!, fazia de tudo para
boicotar as filmagens, e a estrela, de cabeleira loura exageradamente anos 80,
rapidamente deitava por terra a arrogância que só uma estrela carrega, para
ajudar um Knight na demanda da captura do terrível fantasma.
Muito a custo lá me arrastei para o sofá. Puxei o manipulo
da espreguiçadeira e deixei-me ficar, esticada, inerte, de olhar preso ao écran
onde uns velhos jogavam às cartas encostados ao Kitt e não achavam nada
estranho que o carro, não só lhes respondesse, como ainda tivesse a amabilidade
de os ir ajudando, ora a um ora a outro, a levar a bom termo a jogatina.
Nisto, tocou o telefone. Muito a custo, lá me levantei, que
é como quem diz, lá me estiquei o necessário para alcançar o aparelho, e atendi.
O mais imobilizada possível, disse tudo o que tinha a dizer, ouvi tudo o que tinha
a ouvir e desliguei, abandonando no braço do maple o telefone que ali se deixou
ficar, tão inerte quanto eu.
Talvez tenha passado pelas brasas. Num momento o Kitt estava…
noutro já não. Nem Kitt, nem Knight. Ligeiramente quebrada a inércia, estendi a
mão para o comando e carreguei na tecla, para cima…nada aconteceu! Pronto,
pensei para comigo, lá se foram as pilhas. Carreguei no número um…nada.
Continuei
o mais inerte possível. O meu estado, a quem de fora, poderia eventualmente
assemelhar-se ao catatónico. Prestes a ter de suportar a programação da RTP
memória, aquela que não é o Kitt, continuei a carregar nos botões do comando
que continuou a não afetar em absolutamente nada o que se passava no écran à
minha frente.
Decidi trazer o comando para o meu ângulo de visão. Num
mostrador podia ler-se: Cândida! Carreguei na tecla vermelha para que o nome
desaparecesse do visor e voltei a insistir na tecla do número 1. Nada. A Grande
Noite ameaçava começar. O Baião já estava prontinho no meio daqueles panos
encarnados que nos palcos do La Féria ameaçam abrir mas abrem só mais ou menos.
Voltei a olhar o comando que tinha na mão. Agora sim! Agora
via-o! Maneirinho, prata e preto, com um pequeno visor onde os nomes por mim
registados aparecerem sempre que ele toca, ou que alguém cá de casa resolve ligar
para um deles. Pousei-o no braço do maple. Estendi o meu até ao móvel de apoio
e peguei, como quem não quer a coisa, no verdadeiro comando para, finalmente,
me despedir do Baião.
1 comentário:
São os 54 a atacar! ;)
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