quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A miséria


Tenho passado uma grande parte da minha vida preocupada com coisas práticas – quando é que leio este livro; quando é que acabo este curso; quando é que tenho dinheiro para pagar este serviço, para comprar este sonho…e assim, quase sem dar por isso, tenho resumido a vida a alvos palpáveis, coisificando-a porque é isso que se faz quando nos rodeamos de coisas – transformamo-nos, e à nossa vida, numa delas. Numa coisa.

E pouco importa as frases que se ouvem, dos gurus e dos sábios, ou daqueles que por experiência gritam que o importante são as pessoas. Que o importante são as relações que se estabelecem. Que o importante é o amor. De pouco ou nada serve quando o que manda é o medo de perder a condição; a qualidade de vida; o poder de compra. De pouco ou nada serve quando o que manda é o medo da miséria e esse fantasma – o da miséria – se nos apresenta sempre como uma figura andrajosa e cadavérica, de mão estendida ao sabor da boa vontade alheia e exposta ao frio, ao vento e à chuva.

Até ao dia em que à força de perder nos apercebemos que sobrevivemos, que o mundo não acabou e que há coisas muito mais importantes – as relações que se estabelecem; o amor que se sente; os momentos de paz; a alegria de uma criança… e, de repente, lembramo-nos dos sábios, dos gurus, dos experientes e é como se os olhos da alma se abrissem e, milagre, perde-se o medo. 

Afinal a miséria está na solidão, no desamor, na coisificação da vida.

1 comentário:

CF disse...

Toma lá mil :):):):)