sábado, 18 de agosto de 2012

Somos cada vez mais e nunca estivemos tão sozinhos


Não é difícil perceber quem são as pessoas que se sentem sós. São aquelas que dão gritos surdos, tolos, despropositados. Gritos que dizem palavras que não interessam porque não têm coragem para gritar o que vai na alma. Gritos que não dizem mas querem dizer – eu estou aqui, olha para mim, não me vês? E tudo serve para preencher os espaços entre os vazios que moram nesses gritos – o carro; o sonho; a rapariga que sorriu; o piropo que se ouviu…os mais desesperados nem dizem nada, limitam-se a pôr fotografias em poses estranhas que se confundem, ou se podem confundir, com sensualidade; ou então partilham aquelas frases com bonecos que dizem o que eles não são capazes de dizer.

Tratamos a solidão como se fosse uma doença contagiosa. Só não ficamos de quarentena porque isso seria aceitá-la na sua magnitude, com todo o poder que ela tem para nos destruir. Mas acreditamos, coitados de nós, que somos capazes de a esconder!

Há até quem acredite que quem a traz à luz do dia tem menos possibilidades de a curar, já que ninguém a quer ou ao desespero, nem mesmo os desesperados, nem mesmo os solitários. Porque uma coisa é a minha solidão, outra a alheia. Como posso eu suportar duas?! É que ela entranha-se de tal maneira que chegamos a acreditar na impossibilidade de a matar. Esquecemo-nos que ela morre de morte natural assim que deixamos de estar sós. E esquecemo-nos que para deixarmos de estar sós não basta encontrarmos companhia. Esquecemo-nos que há certas companhias que acentuam ainda mais a solidão. Geralmente são as companhias encontradas na insinceridade, as que vêm ao chamado dos gritos surdos, tolos, despropositados.

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