Finalmente teve coragem para abrir o talho e espalhar
cartazes, enormes e escritos à mão, pelas redondezas. “Já abriu o talho no
Texugo. Com Tudo” – era o que se lia ao contornar as rotundas e à medida que nos
íamos aproximando do local.
Lá dentro uma panóplia de arrumações, prateleiras, muitas,
balcões, dois e frigoríficos; um fogareiro gigante, daqueles modernos que o
carvão é cancerígeno…um espaço de meter inveja a qualquer comerciante. Tudo
vazio. Apenas um dos balcões exibia algumas peças de carne.
Entrei para uma perna de peru. Nada.
É claro que os próprios cartazes, escritos à mão e cortados
a dentes, só por si já faziam transparecer o esforço hercúleo que o pobre homem
teve de invocar para abrir as portas fechadas havia tanto tempo. E depois ele
mesmo. De cigarro na mão e olhar no chão. Os ombros a descaírem como quem não
acha horizonte nem ao seu nível! Não era para abrir, disse ele. Isto está tudo
tão mau. Até o outro, na outra terra, já tinha fechado. Mas não tinha mais onde
se agarrar e, ainda por cima, doente, dizia ele. Talvez dos cigarros. Talvez da
postura. Depressão é doença. A pior. Tira as forças a qualquer um. Por grandes
que sejam vão-se com a vontade.
Não durou uma semana. Voltou a fechar. Na montra, escrito à
mão, está outro cartaz – “Vendo esta loja” e, por baixo, um número de telefone
que já ninguém descortina porque o tempo levou a tinta.
Nem sabe, o pobre, que mesmo que haja alguém capaz de
comprar tal espaço, não saberá como o contactar…
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