É um nico de gente. Pelas
dimensões deve andar p’raí no primeiro ano, no máximo no segundo. Com muitas
dúvidas.
Vive num desses bairros
clandestinos sem qualquer tipo de saneamento, construído no meio do mato
à semelhança dos seus ancestrais. Só que em vez de palha os pais usaram
cimento, tábuas e algumas placas de ondulino.
Não faço ideia se tomou o pequeno-almoço.
Temo bem que não. Saiu sozinho, de mochila às costas, em passo p’ra lá de
lento. Terá de percorrer cerca de um quilómetro, mais coisa menos coisa. Tem um
bom passeio para o fazer. Um passeio que separa a estrada nacional da mata onde
habitam outros como ele.
Não sei quais são as suas
origens. Talvez Angola. Ou Cabo Verde…eu apostaria mais em Angola, as mães
cabo-verdianas raramente deixam os filhos por sua conta e risco.
Vai parando pelo caminho, sem pressa
nenhuma de chegar. Fiquei a vê-lo hesitar entre desaparecer na mata ou
continuar em frente. Optou pela mata mas não chegou a desaparecer, afinal
estava só aflito para fazer xixi. Vê-se que está acostumado a fazê-lo ao ar
livre – uma vista de olhos bastou-lhe para garantir que quem passasse passaria
por trás e não pela frente.
Enfim, pensei eu, tantos sinais
de retrocesso. Não há muitos anos, “onde mijava um português, mijavam sempre
dois ou três”… (detesto a palavra mijar. Detesto mesmo. Acho que é a primeira
vez que a escrevo.)
3 comentários:
Também há filhos de portugueses nesse cenário.
Tens razão, a palavra "mijar" é feia. Talvez por isso nos sintamos tão aliviados quando nos vemos livres dele :)
Sputnick, estas crianças são portuguesas, filhas de portugueses, vivem é em condições que não deveriam ser permitidas a criança nenhuma e este pequenito, hoje, despertou-me a atenção por ir sozinho para a escola quando todos os outros iam de mãos dadas com as mães :(
O pior é que há cada vez mais crianças a crescer sem o minimo de condições, e isto não pode ser um bom começo para os adultos de amanhã.
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