Ou melhor – uma das suas
imagens. No alto de uma carrinha, rodeada de flores e com uma pequena luz a
iluminar-lhe as mãos e o rosto.
Não sou uma católica fervorosa. Aliás, nem sei se sou
católica. Tenho tantas queixas das igrejas. De todas e da católica em
particular. Mas sou religiosa e há certos momentos que valem pela extrema
beleza da comunhão e da espiritualidade. Este foi bonito por ser inesperado.
Vim viver para o campo, para uma pequeníssima comunidade
constituída por quintas, rendeiros e arrendatários modernos que só cultivam
pequenas parcelas de terra para consumo próprio. Muita terra coberta por
papoilas, malmequeres e alfazemas que crescem ao deus dará. À noite tudo sossega e só se ouve um ladrar ou
outro, tímido e longínquo.
Duas das três ruas são mal iluminadas mas hoje, quando fui
passear a Puca, havia gente à porta da capela. Desde que aqui estou, ainda não
a tinha conseguido ver por dentro. Gosto de lugares onde se reza. Transmitem-me
tranquilidade e leveza, fazem-me feliz.
“Nossa Senhora vem aí”, disse-me o homem que, de pé, tentava convencer alguém a esperar. “Porquê?”, perguntei eu. “Porque
é costume”, respondeu ele. Depois olhou em volta. Estávamos só nós - eu, ele, a
Puca e as portas da capela semiabertas a deixarem a luz fugir pelas frinchas. “Se
não houver ninguém para a receber, para o ano ela não vem”, disse ele com uma
certa tristeza na voz. “Eu vou a casa largar a cadela e já volto", respondi.
E foi assim que depois das onze da noite, com a minha mãe
pelo braço, fui rezar um Pai Nosso e algumas, muitas, Avé Marias. Para o ano há
de voltar - a escada da capela estava cheia e o padre, vestido a rigor, estava
feliz.
3 comentários:
Belo.
:)) Que bonito...
( beijinhos...)
As pessoas por vezes não comparecem por falta de motivação,mas de vez em quando sabe bem e faz falta um encontro connosco próprios em sítio acima de nós.
Bom fim de semana.
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