Os filhos são uma benção. Os pais, às vezes, uma chatice,
um fardo até, quando não crescem o suficiente para saberem quando chegou a
altura de se absterem. Não quer isto dizer que não se amem. Amam-se, claro. Amam-se
tanto que lhes é dado o terrível poder da chantagem emocional e da atribuição
de culpa.
Somos inteiramente dependentes dos nossos progenitores
enquanto não crescemos, e tanto tempo levamos a crescer que
desenvolvemos neles o vício da dependência. Poucos são capazes de prescindir dela e fazer como os índios do antigo continente - retirarem-se
para dar lugar à descendência.
Essa é, quer se queira quer não, a maior dor de ser pai ou
mãe. Essa é a maior responsabilidade do cargo – a capacidade de nos anularmos,
de nos mantermos em standby apenas para aquilo que for preciso e mediante solicitação dos interessados, para que os nossos filhos possam crescer em
liberdade, seguir o seu caminho sem qualquer espécie de culpa, sabendo que
estão no trilho certo porque é o deles e que apenas deles depende a decisão de
ficar, ir, virar à esquerda ou à direita.
Durante séculos impingiram-nos mentiras. Está na altura
de mostrarmos que somos homenzinhos. Está na altura de crescer. Significa isto
que está na altura de pensarmos nos nossos pais e no nosso sentimento por eles,
sempre que pensarmos nos nossos filhos, para que possamos concentrar-nos no
possível sentimento que os nossos filhos têm por nós e não naquele que nós
nutrimos por eles. É que não são a mesma coisa. Não são a mesma coisa.
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