quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A Judite, o Lorenzo e o que eu penso, mesmo que não interesse a ninguém

A classe média é, em grande medida, o garante dos ricos. Enquanto os do meio estiverem felizes, os de cima são deixados em paz e os de baixo na crença de que um dia, se estudarem e trabalharem muito, se forem bons meninos, podem subir um escalão ou dois e credibilizar a mobilidade social.
 
Por outro lado, se a classe média começar a sofrer baixas substanciais, os ricos começam a ficar isolados – eles em cima, os pobres em baixo e um grande vazio no meio. Quanto maior for o vazio, mais perigosa se torna a existência dos poucos que constituem o topo da pirâmide e mais necessidade eles têm de se defender, isolando-se, protegendo-se, criando, até, manobras de diversão.
 
Numa época como esta que atravessamos, em que a classe média está cada vez mais pobre e em que a sociedade se agita para o lado dos poucos ricos (poucos, e não pouco, note-se), entrevistas como a que a Judite de Sousa fez ao jovem Lorenzo vêm mesmo a calhar – levanta-se o povo, esse mesmo que está cada vez mais pobre, em defesa dos ricos que aos 13 anos já têm carro e aos 17 Ferraris.
 
E a jornalista, que todos sabemos ganhar mais do que a maioria dos portugueses, pode descansar do alto dos seus Louboutin porque ajudou na defesa de uma classe à qual, se ainda não pertence, aspira a pertencer enquanto a maioria de nós anda para trás, ou para baixo – depende do ponto de vista.
 
Ele há estratégias para tudo e nós caimos nelas, todos os dias, que nem uns patinhos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Comentário muito interessante. Clarividente, mesmo. Parabéns!
Resta saber quando é que os "do meio" se decidem a enfrentar as manobras de diversão e a juntar-se aos "de baixo" para mostrar aos poucos muito ricos (e vergonhosamente - criminosamente? - parasitas) que não querem mais ser patinhos-alvo!...

CF disse...

Há um tempo que deixei de simpatizar com a Judite. Não gostei da entrevista, nem do Lorenzo. Acho que estamos de acordo, portanto... :)