sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Vivemos na ilusão de sermos capazes quando, afinal, não abandonámos, ainda, a mesma estrada

Tudo, ou praticamente tudo, aquilo que existe alimenta o que é, mesmo quando aparenta o oposto.
 
Os partidos políticos alimentam, todos eles, esta forma de estar, criando a ilusão de liberdade num mundo onde ela nunca foi mais escassa.
 
Os comentários de ataque alimentam a ilusão de que existem livres pensadores, ou opositores credíveis e capazes, quando as mazelas que conseguem fazer, por muito que escarafunchem, são mais difíceis de encontrar do que uma agulha num palheiro.
 
A terminologia esquerda/direita alimenta a ilusão de que podemos tanto quanto podíamos há meio século atrás, quando o mundo, que nunca foi o que era, cada vez o é menos – qualquer semelhança é pura coincidência e teimar em métodos obsoletos é, evidentemente, uma forma indirecta, e por vezes inconsciente, de manter o mesmo estado de coisas.
 
E agora que já fiz o mesmo que tantos outros – vomitei o que acho de forma inconsequente e leviana -, posso dizer o que sugiro – exactamente da mesma maneira.
 
Sugiro que cada um de nós se afaste o mais possível do vampirismo. Que cada um de nós aprenda, cada vez mais, todas as possibilidades que existem de viver longe de tudo aquilo que fomos criando na crença de que um dia todos iríamos desfrutar plenamente dessa criação.
 
Sugiro que percamos o medo, que estejamos prontos para tudo, que tenhamos fé – uma fé inabalável -, seja no que fôr desde que não seja nesta sociedade. Uma fé inabalável, por exemplo, em nós e na nossa capacidade de mudar os nossos pequenos mundos.
 
Sugiro que estejamos prontos para tudo, que percamos o medo. Sim, eu sei que já disse isto mas não disse o que quero dizer a seguir – estar pronto para tudo não é estar prevenido. Quem se previne para o que nem sabe se vai acontecer guarda em casa o medo do que possa acontecer. Estar pronto para tudo é estar nu, de peito aberto e mãos abertas. Estar pronto para tudo é ser capaz de abdicar de tudo e saber, de fonte segura, que não morrerá disso. E se morrer, tanto pior (ou melhor). Estar pronto para tudo é não ter medo de nada, muito menos da morte. Nem que, para isso, tenhamos de acreditar que ela não existe. É que, só quando todos estivermos prontos para tudo é esta construção fundada no medo se desmoronará.

2 comentários:

CF disse...

Isso é um sonho Antígona, impossível ao comum dos mortais. Não te parece?...

Alda Couto disse...

Sinceramente, não :) :)