sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Dos filhos e enteados

Quando acabei de escrever o meu primeiro romance, há uns bons anos atrás, imprimi uma série de cadernos que enviei para tudo quanto era editora.
Nos meses que se seguiram fui recebendo cartas: “Obrigado, mas…”; “Lamentamos que…”. Até que um dia o telefone tocou e uma voz do outro lado do fio se fez anunciar como representante de uma grande editora, das maiores à época e agora, ainda. Perguntou-me Quem eu era! Ninguém, respondi, apenas alguém que escreveu um livro e gostava de o ver editado. Mas pertence à família de…? - insistia a criatura. Não, não pertenço. Gostámos do livro. Entraremos em contacto consigo.
E isso bastou-me. Esperei…em vão. Passaram alguns anos. Tirei o livro da gaveta e revi o que tinha escrito, cortei aqui e ali, acrescentei acolá e voltei a enviá-lo para uma série de editoras. Passados uns meses recebi um outro telefonema. Uma pequena editora estava interessada. O livro foi para as prateleiras.
Mas a editora era, e é, francamente pequena. De parcos recursos não divulgou, não publicitou, não teve poder de negociação perante os livreiros, e o livro, que durante os primeiros dias teve honras de destaque em FNACs e Bertrands, acabou escondido nas prateleiras; invisível no meio de tantos outros.
Ainda assim esta pequena editora entusiasmou-se com o segundo e repetiu a proeza. Mas, fosse eu filha de fulano ou íntima de sicrano e seria hoje uma conhecida escritora, a viver, apenas e só, das vendas dos livros. E pouco importa se escrevo bem ou mal – seria. Porque é assim que a selecção é feita neste país e, nos entretantos, lá vão aparecendo, por sorte, aqueles que até merecem…

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