A minha geração não esteve, nunca, autorizada a contar aos pais aquilo que fazia – as bebedeiras que apanhava; as experiências malucas; os namoros às escondidas…Não havia comunicação que permitisse isso nem mesmo depois de adultos. Os pais da minha geração não estavam, nem estão, preparados para saber pormenores do crescimento dos filhos ou da sua vida íntima.
Mais tarde, a tendência de muitos foi quebrar o mais que pudesse essa barreira, com os filhos. Eu caí, muitas vezes, em exageros de confidencialidade, numa sede de proximidade que faltou com a geração anterior. Essa sede foi criticada, e as confidências, ou desabafos, mortos à nascença – os filhos não são, não podem ser diziam eles e muito bem, confidentes dos pais. Pelo menos enquanto não se tornarem verdadeiramente adultos.
Tiveram contudo o privilégio de poder confessar o que muito bem entendessem confessar, e nunca sofreram, pelo menos uma grande parte deles, dessa distância feita de ignorância e secretismo. Hoje, mercê deste fenómeno de comunicação global que é a internet, todos os pais podem, se quiserem, saber o que os filhos fazem, fizeram; deixam ou deixaram de fazer – basta ir ao Facebook.
Quanto a nós, lá vamos deixando, de vez em quando, escorrer qualquer coisita mas o hábito faz o monge e há coisas que permanecerão secretas para todo o sempre. Coisas que, uma vez caladas, caladas para sempre.
Assim, a minha geração é, costumo eu dizer por graça, a geração do queijo e do fiambre. A geração entalada entre duas sem ter podido, na verdade, confidenciar com nenhuma. A geração do silêncio.
Mais tarde, a tendência de muitos foi quebrar o mais que pudesse essa barreira, com os filhos. Eu caí, muitas vezes, em exageros de confidencialidade, numa sede de proximidade que faltou com a geração anterior. Essa sede foi criticada, e as confidências, ou desabafos, mortos à nascença – os filhos não são, não podem ser diziam eles e muito bem, confidentes dos pais. Pelo menos enquanto não se tornarem verdadeiramente adultos.
Tiveram contudo o privilégio de poder confessar o que muito bem entendessem confessar, e nunca sofreram, pelo menos uma grande parte deles, dessa distância feita de ignorância e secretismo. Hoje, mercê deste fenómeno de comunicação global que é a internet, todos os pais podem, se quiserem, saber o que os filhos fazem, fizeram; deixam ou deixaram de fazer – basta ir ao Facebook.
Quanto a nós, lá vamos deixando, de vez em quando, escorrer qualquer coisita mas o hábito faz o monge e há coisas que permanecerão secretas para todo o sempre. Coisas que, uma vez caladas, caladas para sempre.
Assim, a minha geração é, costumo eu dizer por graça, a geração do queijo e do fiambre. A geração entalada entre duas sem ter podido, na verdade, confidenciar com nenhuma. A geração do silêncio.
7 comentários:
Nunca tinha pensado nisso nesses termos. Mas é verdade que a minha mãe não pôde nunca ter uma relação de confidencialidade com os pais e escolheu nunca a ter, em toda a sua franqueza, comigo. Não a critico, pois acho que tem a razão quando diz que os filhos não podem ser os melhores amigos dos pais - no sentido de partilharem tudo, tudo. Mas resta uma pergunta: e entre as pessoas da vossa geração, uns com os outros, também não há confidencialidade?
há...dentro da medida em que nos habituámos a ela :):):)
Estou a ver. Desde que se leve com um sorriso...
Este tem sido um assunto permanente no meu espirito... Posso deixar uma questão??? A forma como olhavamos para os nossos pais... transportada para os dias que correm, com facebook e wikileaks e hi5, que pensarão eles de nós? Nós os malucos dos anos 80, não seremos os cotas que só tinham 2 canais de tv? E as nossas inovações Antígona, aquelas coisas que fazíamos, diferentes de tudo, que atentavam aos pudores e regras implacaveis que nos obrigavam? Consegues fazer um paralelo? tendo em conta a dimensão da distância que nos separa, inevitávelmente, deles? Continuaremos nós, embrenhados no nosso ego de geração fantástica a achar que o que nos separa desta nova e querida geração, são anos luz! Tão dificeis de alcançar!
Que tal abrir a mente, com muita honestidade, e num papel imaginar os fossos temporais que nos separavam dos nossos pais e depois, compara-los com o fosso imenso que separa a minha filha de 11 anos... a mim! Craque dos anos 80? Meu Deus!
Não pela obra, nem pela qualidade da escrita, posso pedir que leias um livro? Chama-se "O fim da Inocência" de Francisco Salgueiro, é só uma história de uma Adolescente Portuguesa... não é um relato da maioria. Mas é tão triste, é tão real!
Um bejico... estou no meio disso, da tentativa de percepcção daqui que sei e daquilo que existe... Será crescer?
Inês, em primeiro lugar um sorriso. Deixa-me dizer-te que entre mãe e filha de onze anos sempre houve e creio, sinceramente, que sempre haverá um fosso. Mas existe uma grande diferença entre o fosso que me separa dos meus pais e aquele que me separa dos meus filhos. É que o que me separa dos meus pais só eu o transpasso, enquanto que aquele que existe, ou melhor - existiu a seu tempo, entre mim e os meus filhos, especialmente a minha filha por ser mulher, mas isso é uma outra conversa..., foi transpassado por todos - por mim e por eles. Talvez até porque nunca foi tão largo, nem tão fundo quanto aquele que a geração mais antiga cavou, não por vontade mas por incapacidade.
Eu não sou da geração de 80 :) sou da década anterior, isto para te dizer que quanto mais para trás se anda, maior é o fosso. Esse, que tanto te apoquenta, passará a seu tempo, quando a tua flor for mais crescida. Deixa-a crescer e vai crescendo tu com ela, mesmo que só a olhes "de longe" :):), mais cedo ou mais tarde, ela irá ter contigo e o fosso deixará de existir :), é essa a ordem natural das coisas. Agora, que todos nós sabemos um pouco mais do que sabíamos há algumas décadas atrás, já não pudemos, de forma nenhuma, estar a anos luz de qualquer geração que venha a seguir :). Pouco importa o facto de termos tido apenas dois canais de TV, de resto isso até pode constituir uma curiosidade fascinante naqueles que crescem rodeados, e bombardeados, de informação. Aquilo que verdadeiramente importa é que tivemos o privilégio de viver duas realidades tão díspares em tão pouco tempo. Este tempo, este dos Facebooks, dos WikiLeacks,..., é o nosso tempo também :)ou não estaríamos nós aqui, tu e eu, a conversar numa janela de comentário de blog. Que privilégio este, ter vivido dois tempos! Acompanha a tua filha agora e guarda as tuas memórias. Ela vai querer saber delas, mais tarde, apesar que nem de todas... :) - essas de que falas, as loucuras e os atentados; os desafios e as revoltas - essas ficarão, para quase sempre, o nosso segredo :):), e digo quase sempre porque, mais cedo ou mais tarde, ele acabará por ser desvendado por eles, quando chegar a altura de se perguntarem quem são, ou foram realmente, os pais, e essa altura chegará, chega sempre nem que dure apenas um instante.
Obrigada pela sugestão de leitura. Assim que tiver oportunidade segui-la-ei :)
Um beijinho para ti.
Obrigada pelas palavras...fica sempre um medo estranho dos caminhos que a minha flor vai e está a eleger... Farei o melhor, claro!
Bom fim de semana!
Muito bem visto, clap clap :)
Enviar um comentário