terça-feira, 31 de agosto de 2010

O último dia

Acabou a Colónia. Despedimo-nos das crianças. E dos pais das crianças. E os abraços e os beijos; e os agradecimentos e a satisfação, pesaram muito mais do que os rendimentos. E se o dinheiro é importante, porque é, nada é mais importante do que o reconhecimento do sucesso.
Esta primeira Colónia foi um verdadeiro sucesso. E eu estou feliz.
Para o ano há mais. Agora vou ficar comigo e com os meus particulares afectos, durante uns dias – bem mereço.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Nasce connosco, está-nos no sangue

Têm quatro anos. Ela desfila enquanto ele faz flexões, deitado no chão. Dizem-se namorados e estão a brincar às casinhas. Ele troca, sistematicamente e com precisão, os Rs pelos Ls e vice versa. Fala compassado como se cada sílaba tivesse de ser antecipadamente pensada. Tratam-se por querido e quelida.

Ela está sentada numa cadeira com os pés apoiados noutra - está em casa dela.

Diz ele: - E agola eu passava pela tua casa e tu vias como eu ela rindo.

Ele passa, devagar e sacudindo o cabelo, pela frente dela.

Diz ela: - Aiii! Que senhor tão linnndo!!!

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Agora ela está a enviar-lhe um sms, escrito na palma da mão aberta, porque ele está doente, deitado ao comprido em cima de três cadeiras.
À medida que vai teclando vai verbalizando o texto: «Espero que estejas melhor. Gosto de ti. Beijos.»

domingo, 29 de agosto de 2010

Ninguém perguntou...

...mas, ainda assim: o fim-de-semana foi óptimo, obrigada.
Há muito muito muito tempo, que não descontraía; que não estava tão desassossegadamente sossegada.
Um grande Bem Haja, por isto e muito mais, a este fim-de-semana que passou. Amanhã volta a rotina, mas por pouco tempo. As férias estão já aí... Sou uma mulher de sorte, e mais não digo.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Da hora certa; do momento certo...

Há quem defenda que tudo acontece no momento certo, na hora certa, quando tem de ser. Nas redes sociais abundam os lugares comuns que gritam exactamente isso, que se não aconteceu antes foi porque não se estava preparado, não tinha chegado a hora e blábláblá...

Há frases dessas que me convencem, outras que nem por isso. As que defendem esta precisão estão na lista das nem por isso.

A não ser que eu não tenha a mínima percepção da «hora certa» ou do «momento certo», esta sensação de que as decisões importantes da minha vida estão constantemente desencontradas dos acontecimentos involuntários primordiais, não me abandona. O, se eu soubesse que isto ia acontecer teria esperado ou, que chatice isto devia ter acontecido antes de..., são sentimentos recorrentes nesta minha corrida de obstáculos que tenho feito sempre na perspectiva de chegar a uma pista e poder, a título de compensação, participar, vá lá, na pior das hipóteses, já que isto não permite a caminhada contemplativa, nas competições de marcha.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

De certos pais e de certos filhos

Há pais que não gostam dos filhos. Que não conseguem esconder aquele sentimento de desânimo ou frustração cada vez que os olham, porque os petizes não correspondem àquelas extraordinárias expectativas que sobre eles tombaram, logo à nascença.

Depois, em jeito de compensação, têm as atitudes mais primárias como se elas tivessem o estranho poder de lhes lavar a alma a abarrotar de uma culpa que negam porque só o coração lhe conhece a raiz.

O pior é que essas atitudes, grosso modo, agravam ainda mais o fraco ego dos pequenotes que se sentem não-amados e depois, super-protegidos, passam a sentir-se incapazes e incompetentes.

Assim se vão criando pequenos monstros capazes de tudo para chamar as atenções - desde as atitudes mais apalermadas àquelas mais violentas que são, de resto, as que dentro deles tendem a crescer mais e mais...

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Universalidade

A mais levianamente pretensiosa de todas as palavras.
A culpa até que nem é dela, coitada, que não tem voto na matéria e limita-se a existir. A culpa é de quem a emprega sem saber o que diz porque tomar o mundo pelo Universo é não ter, de todo, a noção de dimensão – nem própria, nem alheia.
Mas tudo isto vem a propósito de uma notícia que ouvi hoje e que me deixou empolgada. É que foi descoberto, por portugueses, um sistema solar perto de nós, com sete planetas sendo que um deles é pequeninino como a Terra, ou quase tão… (qualquer coisa como 1,4 vezes se não me engano).
Portanto, meus amigos, as esperanças de termos ponto de fuga crescem de dia para dia, animem-se os «universalistas» que daqui a mais dois ou três séculos já poderão usar com muito mais substância a vossa universalidade.
P.S. – Se calhar estou a ser pessimista! Isto com a tecnologia nunca se sabe

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Não não adormeci...ainda...

Ainda assim, há muitas formas de sono e o facto é que eu, ao fim de um ano sem parar, tenho evoluído para uma forma mais ou menos amorfa de morta-viva, que é como quem diz - ando a dormir em pé.

O que vale é que está a chegar ao fim! O que vale é que é quase dia 3 e eu, a despeito de tudo, vou-me pirar daqui. Vou para o campo! Vou fazer aquachi, ou lá como é que se chama; vou construir coisas com terra; vou viver no meio da Natureza - vou estar fora sete dias.
Eu sei que é uma merda mas é melhor do que nada (os sete dias, não o campo evidentemente, que eu amo de coração e que só me faz é bem porque, ao contrário das gentes, as árvores não nos enchem a cabeça de sons, muitas vezes bem confusos, antes pelo contrário - são bem capazes de nos aturar todas as pancadas e ainda nos acalmam os nervos...)

Até lá estou-me a aguentar muito bem e como duas das minhas quatro actividades estão suspensas por duas semanas! imagine-se! MILAGRE!, ainda vou conseguir dar um salto ao cabeleireiro, que já não me põe a vista em cima há bem um ano, antes de partir.

Agora, ridículo ridículo é este entusiasmo por causa de sete dias de férias! Isso sim é tão ridículo que quase toca as raias da pelintrice. Ou talvez não! Ou talvez seja este entusiasmo o que me salva! É que quem consegue entusiasmar-se assim com tão pouco, ou é porque nada tem, ou é porque está tão viva tão viva, que todos os pormenores contam. E se eu ainda estou de pé, só pode ser porque estou tão viva tão viva...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Do respeito

Desconfio que já aqui referi este tema - em mais de mil pequenos textos é natural que me repita - se for esse o caso considerem que não se trata de uma repetição mas de uma «alembradura». Eu não me repito, «alembro-me». E ele há temas que devem ser «alembrados».
Se me contradisser, é porque estou a evoluir. Se me mantiver firme nas minhas convicções, é porque há muito que finalizei o meu processo evolutivo (hihihihi).

Infelizmente a imagem que tenho dos seniores mais cresciditos da nossa praça não é muito abonatória no que concerne à educação. Tenho por mim que não a tiveram esmerada e não é à toa que digo isto - trata-se de largos anos de experiência a levar com idosos a quererem furar filas; a empurrarem sempre que podem; a não pedirem licença para nada, como se a idade lhes trouxesse o estranho direito de ignorar os outros, principalmente os mais novos. Provavelmente porque era moda lidar com os mais novos como se eles não fizessem parte do mundo. Párias, sem direitos!
Ontem constatei que afinal não é bicho que tenha dado na fruta nacional porque, se de bicho da fruta se trata, ele propagou-se por longínquas paragens.
No jardim de Belém tive de explicar a um estrangeiro que o facto de ele ser velho não significa que possa empurrar, isso mesmo - empurrar, porque foi o que ele fez - duas crianças para o lado, de forma a arranjar espaço para sentar um rabo gordo que ocupa, bem à vontade, dois lugares! (Note-se que éramos nove de vários tamanhos a ocupar um pequeno banco de jardim, do qual ele decidiu usurpar um cantinho assim que para isso teve oportunidade!). Nem: Dá-me licença; nem: Desculpe, estou cansado; nem o raio que o parta! Nada! Respeito, zero!
Estas criaturas não foram respeitadas em criança. Fazem parte de um tipo de educação em que às crianças não são dadas oportunidades de se manifestarem, e de uma época em que poucos sabiam que elas, as crianças, aprendem por imitação. Logo, se forem respeitadas, respeitarão - foi o que tive de explicar ao senhor que ainda por cima era mentiroso e dissimulado, convencido que eu não tinha assistido, de corpo presente e olhar vivo, à cena em questão.
Vamos lá a ver mas é se aprendem a respeitar os mais novos, que lá pelo facto de andarem por cá há menos tempo não merecem menos respeito por isso! Para além de que, já que o futuro se perspectiva tão desastroso, ao menos que daqui a uns anitos tenhamos um mundo de gente respeitadora. Já seria uma bela de uma evolução!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Não há volta a dar...

...quando um dia nasce torto dificilmente se endireita e a única coisa que há a fazer é tentarmos passar despercebidos; mantermo-nos o mais estáticos possível e esperarmos que o dia se esfume sem acontecer nada de mais sério ou preocupante. Até porque uma coisa puxa a outra e quanto mais ansiosos ficamos pior é o que se segue.

Ontem cheguei a casa completamente derreada depois de um dia inteiro de piscina rodeada de crianças verdadeiramente pequenas que, a despeito do tamanho, se julgam capazes de grandes feitos aquáticos e que de meia em meia hora ou têm fome; ou querem fazer chichi; ou cocó; ou precisam de se assoar; ou têm sede; ou têm frio e agora já não - querem ir para a água outra vez e é nestas alturas que uma pessoa deveria ter a força de um touro e os braços de um polvo.

Enfim, derreada, primo o botão do despertador e acho que sete será uma boa hora para me levantar hoje, o problema é que me esqueço de o accionar - ao despertador - pelo que acordei à hora em que deveria estar a sair de casa.

Estava montado o circo para o resto do dia. Tive direito a deixar, durante uma manhã inteira, o carro por trancar no parque do CCB, depois de ter estado quase uma hora para entrar em Lisboa por causa de um acidente e de ter transferido a sessão no Planetário, que estava para as onze e passou para as duas mas só começou à um quarto para as três porque houve uma avaria qualquer no equipamento «demasiado sofisticado», foram mais ou menos as palavras que ouvimos.

Quando chegámos, depois de uma mala despejada e uma angústia desgraçada, descobri que a chave do carro estava enfiada numa mochila de criança dentro do porta bagagens...

Ah! É verdade! Tenho de ir comprar óleo ou coisa que o valha para ver se consigo abrir as grades da janela aqui do estaminé, que esta noite decidiram encravar. Ah! pois é! e estou a passar por cima duma questiúncula com um estrangeiro por causa de um lugar à sombra num banco de jardim...enfim, um dia que ainda não acabou mas que ficará para mais tarde recordar.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

É preciso é calma. Calma e força para continuar

Quando faço as contas, desmoralizo. Não que a coisa não esteja a crescer, que está, mas porque cresce devagar; porque o dinheiro do banco já se foi e o que se faz não chega. Paga-se ao Estado; paga-se ao banco; pagam-se os seguros e nós ficamos para trás - há espera de melhores dias. Há espera que isto continue a crescer. Com a desmoralização a bater-nos à porta. O desaire a sussurrar-nos que se calhar seria melhor...
Mas depois chegam as crianças. De sorriso nos lábios. Os pais a dizerem-nos que elas querem aqui ficar o ano todo porque esta é a «escola mais linda». E eu penso - mais um ano, vale a pena andar para frente. Vale a pena lutar.

domingo, 15 de agosto de 2010

O país pára em Agosto. Ficam quase desertas as zonas mais povoadas. Vai tudo a banhos. Abandonam-se assim, sem piedade, os computadores e as internetes. E eu para aqui a escrever. Logo agora, que é quando tenho mais tempo para pensar…
Azar.
Leiam-me quando vierem e guardem-me para quando eu não puder.
Com um pé dentro e outro fora
Vou-me mantendo acordada
Enquanto durmo embalada
Neste berço de ilusão

E na crença de chegar
Esqueço o ponto de partida
Esqueço mesmo a própria vida
E o bater do coração

Bebo o vinho que me dão
Como o queijo e como o pão
E penso que sou feliz

Só não posso abrir os olhos
Que as rosas viram abrolhos
E me apodrece a raiz
De repente veio a raiva e com ela as memórias de canções de verdade; de gente sem medo; de olhos abertos.
De repente veio a raiva e com ela a consciência do adormecimento.
De repente veio a raiva e com ela a certeza da necessidade de acordar.
De repente veio a raiva.

sábado, 14 de agosto de 2010

FMI - Liberdade, liberdade: Quem a tem chama-lhe sua!

Somos livres.

Desde que o sejamos «dentro da “normalidade”».

Ai da ovelha que se tresmalhe!

E se, de tanto balir, sai do curral, é porque o quinteiro lho permite, ainda que ela acredite ser direito conquistado…

Cegos. Cegos e surdos. Dá menos trabalho…

Mas gostamos de acreditar que vimos. Agora que nos deixam balir.



Fiquem-se com esta. Nunca esteve tão actual.

(Dedico-a ao FMI & Cª)

O que sabemos nós? Provavelmente, nada.

Fui passar a manhã a Sesimbra. Apaziguar as muitas saudades de uma muito querida amiga que é raro ver e cuja presença me faz falta.
Afastámo-nos com um aperto no coração e a promessa de não deixar passar tanto tempo assim entre encontros. As ruas de Sesimbra são estreitas. Demasiado estreitas. E íngremes. Demasiado íngremes. Consegui estacionamento, por milagre, numa dessas ruas, que se de Inverno é difícil, de Verão é impossível…
No regresso esqueci-me que tinha deixado as rodas viradas para o passeio. Arranquei; guinei e ouvi um crac. Já lixei a jante; ou lá se foi o tampão! Paro, não paro, mas onde?! Os automóveis sucedem-se sem darem espaço para nada. Uns metros mais à frente – uma oficina – guino para a esquerda e atravesso-me na entrada. Não desligo o carro. Saio; olho para a roda e concluo que devo ter danificado o passeio – a jante e o tampão, lá estão, de boa saúde. Volto a entrar. Preparo-me para fazer marcha atrás e espero pacientemente que uma alma caridosa me dê passagem. À minha esquerda BUM! Como um balão que rebenta. Olho. Estatelado do outro lado do passeio está um homem, um veraneante de cerca de sessenta anos, de calções, sandálias e mochila às costas. Caiu desamparado sobre o lado esquerdo. Embateu nas traseiras de um automóvel que esperava, como eu, uma oportunidade de se pôr em marcha. Escorregou nesta calçada que a tradição nos obriga estupidamente a manter e que o sol amacia sem dó nem piedade.
Tento içá-lo com a ajuda da mulher e dos ocupantes da viatura. Não se mexe. Da face escorre-lhe um fio de sangue. Segure-me aqui nos óculos, pede-me ela e eu obedeço. Acha que chame o 112?, pergunta o condutor. É melhor, respondo eu. Sinto o sangue dele no meu braço. Quando começa a dar acordo de si, queixa-se do braço esquerdo – deve estar partido. É melhor deixá-lo estar, assim, deitado. Levanto-lhe a cabeça para a mulher lhe colocar, por baixo, a mochila que entretanto lhe conseguimos remover. Queixa-se da temperatura do asfalto onde a perna esquerda está assente. Alivio-lhe a perna. Por baixo coloca-se uma mala de mão. Vou ao meu carro, que entretanto continua a trabalhar; desligo o motor e limpo o sangue do braço. Peço água na oficina para lhe dar de beber – não têm. Um transeunte pergunta-me se eu acho que deva abrir o chapéu-de-sol para lhe fazer sombra. Se não se importa…, respondo como se conhecesse o acidentado.
Decido arrancar. Ele lá fica, na posição fetal, à espera do 112, rodeado da mulher e dos ocupantes das viaturas cujo percurso foi interrompido.
Pelo caminho continuo a sentir o fio de sangue a escorrer-me pelo braço. O sangue dos outros entranha-se-nos na pele, mais do que o nosso… De que me serviu a mim? De que lhe serviu a ele? Nada se pode concluir de argumentos tão pobres como – o acaso não existe, ou porque é que eu parei, ali, naquele preciso momento. Mas não posso deixar de sentir um fio ténue, condutor, que atravessa sem que saibamos porquê ou para quê, todas as coisas. Provavelmente mesmo aquelas que parecem não ter, entre si, qualquer ligação.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Do pouco que é tudo

Por vezes bastam uns momentos - uns momentos rodeados pela família e pelos amigos - e toda a vida se transforma.
Por vezes basta um gesto - um gesto de alguém que tem frio; uma mulher que corre desgovernadamente; uma gargalhada que se espalha até ao infinito; uma chuva de estrelas que não cai - para que esses momentos fiquem gravados na nossa memória e a vida se possa manter, por mais uns momentos, assim transformada.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A andar pelo meu próprio pé

Tudo é passível de ser apreciado sob vários pontos de vista.
Porque estarei eu, hoje, a fazer coisas que deveriam ter sido feitas quando tinha vinte anos? Porque me submeti pacificamente à vontade de alguém cujo medo de ser superado era o seu alimento, acreditando que o meu futuro estava traçado e que todas as coisas corriam «naturalmente»? Ou porque, na verdade, fui ociosa e, confortável que estava, quis acreditar que era esse o meu papel?
Na verdade, compreendo hoje, sempre ambicionei. O que se alterou, em determinado momento, foi a consciência de que aquilo que se conquista por mão própria tem um sabor bem diferente daquilo que se conquista por mão alheia. E foi nesse entretanto que recuei nas minhas convicções. Estaria eu disposta a continuar a minha submissão, agora que me reconhecia? Claro que não!
É tarde de mais? Talvez. Mas ainda a tempo de ter tentado e, quando me for embora levarei comigo essa força – a de ter tentado. Tenha ou não o tempo necessário para chegar ao fim, tentei. Numa época em que o medo é soberano, tentei. Quando muitos já não acreditavam, tentei.
E continuarei a tentar. Porque tentar é andar em frente, mesmo que às vezes nos pareça que não. Quem não tenta, não cresce. E é nessa luta, do tentar, que acabamos por nos conhecer.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Marionetas, até quando?!

Mais do que os transtornos do dia-a-dia, transtorna-me a possível consciência do papel que cada um de nós desempenha nesta sociedade que parece ter sido construída por todos mas que foi construída por poucos com a complacência da maioria.
Imaginarmo-nos como marionetas – para recorrer a um já gasto paralelismo – nas mãos de meia dúzia de gajos, sendo que é precisamente essa meia dúzia que aproveita bem o tempo que por cá passa sem deixar de assegurar que esse bem-estar se fixará o mais eternamente possível dentro das suas próprias casas, alimentando filhos, netos e bisnetos, deixa-me agoniada.
Porque gostava que todos vivêssemos bem? Sim. Mas principalmente porque gostava, eu, de viver bem - de não ter mais preocupações do que aquelas que se prendem com a manutenção de um estado de coisas; de poder desfrutar de todos os maravilhosos lugares que a Terra ainda tem para oferecer; de poder ter momentos de paz, apesar da desgraceira que graça por esse mundo fora. E consegui-lo-ia? Não, se soubesse realmente o que se passa que é o que não acontece quando se vive à parte, retirado do «mundo real» onde a plebe se debate com a sua própria sobrevivência sem ter tempo nem cabeça para pensar no porquê da sua primária condição.
Pensar cansa, dizia Pessoa. Pensar cansa e pode transtornar-nos. Imaginem que tudo, mas tudo, o que acontece, não é por acaso e, não o sendo, não tem, nem nunca teve, a intenção de realmente melhorar a vida da maioria, antes manter a condição de uma minoria, tão minoria que se pode, quase, contar pelos dedos.
Imaginem que guerras e invasões; desastres ecológicos, do tipo daquele que espalhou pelo oceano litros e litros de petróleo, e crises financeiras têm como único objectivo, mesmo que tal não pareça, a continuação e o reforço de um determinado estado de coisas que só beneficia meia dúzia. Imaginem…
Não se sentem agoniados? Eu sinto-me. Talvez porque ainda não me conformei com o meu papel de marioneta…

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O meu reino...

...por uma cabana à beira-mar, rodeada de árvores e uma rede para me deitar.

Alienígenas e assim...

Não percebo nada de ficção científica. Não sei quem foi o pai, ou se há um pai, destas andanças. Mas gostei de ler Júlio Verne e sei que de todas as suas imaginativas obras, à época em que foram escritas, apenas uma ainda não se realizou - a Viagem ao Centro da Terra.
Mais tarde, muito mais tarde, apareceu 2001 Odisseia no Espaço, com as suas naves sofisticadíssimas. Daí até às invasões alienígenas foi um saltinho. Com extraterrestres compridos e verdes, ou mesmo castanhos, sem forma humana, até que os Homens de Negro nos vieram meter na cabeça que muitos de nós somos eles.
Agora, cada filme que se vê de ficção científica comporta organismos inteligentíssimos que nos roubam a «carcaça»!...e eu já pensei cá p’ra comigo: Tu queres ver A.M. que é por isso que há dias em que parece estares rodeada de gente doida?!...É que naves já temos; extraterrestres há muito quem diga que existem sim senhor e que até já houve quem os visse! Só falta mesmo esta dos organismos inteligentes e eu tenho por mim que a ficção científica funciona muitas das vezes como uma premonição. Ou isso ou há quem saiba coisas que a maioria desconhece…Medo! Muito Medo!...

domingo, 8 de agosto de 2010

Hoje quero chuva

A pouca chuva que caiu serviu para transformar o pó dos carros em terra. Bom mesmo era que caísse uma bela de uma carga d’água que os lavasse, já agora…; que refrescasse o ar e humedecesse a terra. Isso sim, seria um belo de um domingo. A partir de amanhã poderia voltar o sol, mas hoje ficávamo-nos com o cheiro da terra molhada.

Palavras que merecem ser recuperadas



"Homessa" - porque é giro, prático e até vem no dicionário.

Somos capazes de dizer em várias circunstâncias - "Olha 

qu’essa!!!", mas não dizemos "Homessa!".

Acho mal.

Por exemplo:

- O compadre já viu?! Este malvado deste tempo?!

- Homessa amigo! Há lá coisa melhor qu’uma chuvinha p’r 
assentar a poeira!

Ou:

- Amanhã não dá p'ra ir à praia!

- Homessa! Então porquê?!

São ou não momentos dignos de um valente "Homessa!"


Homessa - diriam vocês agora -, mas é claro que são!

sábado, 7 de agosto de 2010

Particularidades das palavras

Por vezes as palavras surgem ao longe e tão rápidas que se não forem agarradas de imediato nos fogem e aquele texto, tão promissor, deixa de o ser.
Quando isso me acontece, esteja onde estiver, salto para o computador ou puxo da caneta e registo-as o mais rapidamente possível. Por estarem longe, tão longe como as imagens que requerem instrumentos de longo alcance e muita concentração para as conseguirmos definir, é fundamental que ninguém se mexa, que nada bula, que tudo se concentre naquelas palavras vagabundas e fugidias, as mais preciosas, as melhores. Nada que venha depois as poderá substituir, nunca.
Nem toda a gente conhece esta particularidade das palavras. Nem toda a gente compreende a irritabilidade dos caçadores quando, por ignorância, um ai se solta no momento em que o dedo está prestes a puxar o gatilho. E a caça foge.

Pensei em chamar a este post «Da fragilidade humana», mas achei demasiado pretensioso, já que sobre ela muito mais há a dizer...

Nós somos frágeis. Muito mais frágeis do que aquilo que gostamos de fazer crer. E apesar de todos, em determinada fase do nosso crescimento, termos pressa de crescer, na verdade gostaríamos de ficar toda a vida pequeninos, para que outros tomassem conta de nós.
Essa pequenez, não em tamanho mas em infantilidade, regressa à medida que a idade avança. Como se dela nunca devêssemos ter saído.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Ao ponto a que uma pessoa chega!

Hoje dei comigo a tentar enfiar um par de óculos sem tirar os que tinha postos e levei alguns segundos a perceber porque carga d'água é que os estupores não entravam nas orelhas!

Tadinhos dos leõezinhos...

Antes de mais quero deixar bem claro que sou do Sporting. Quer dizer, não sou sócia nem nada disso. Sou simpatizante. É uma tradição de família.
Apesar disso não resisto: Os coitaditos ficaram nervosos porque os adeptos assobiaram!!...coitados! Isso não se faz adeptos! Então assobia-se assim?! Não vêem que põem as pessoas nervosas?!
E ficaram sem bola! Tsh tsh – sem bola!... A outra equipa usurpou-lhes a bola!... Outra coisa que não se faz!
Tenho tanta pena deles!...

Dos homens e das mulheres

Uma das coisas que me orgulha em nós, mulheres, é o facto de termos sido, durante séculos, religiosamente afastadas das chamadas «actividades masculinas» e termos, em pouco tempo, conseguido recuperar estoicamente todo esse tempo perdido e sermos, nos dias que correm, melhores do que eles em muitas circunstâncias, por exemplo na condução.
Embora ainda gostem de fazer piadinhas acerca da forma como as mulheres conduzem, nabos são muitos deles, mas NABOS MESMO. E só a faltinha de jeito e o medo que sentem é que os obrigam a proferir os impropérios que proferem e que ainda os tornam mais pequeninos.
A todos aqueles que gritam e fazem gestos obscenos; que aceleram sempre que um carro ameaça passar-lhes à dianteira e que depois estão meia hora para tirar o carro da garagem deixando que uma fila se vá formando porque, atravessados na estrada, se vêem aflitos para endireitar o dito, acabando por deixar a viatura estacionada em contra mão -VÃO MAS É A PRENDER A CONDUZIR PÁ!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O dinheiro, sempre o dinheiro

Para que uma empresa cresça são precisos clientes; para se ter clientes tem de haver um bom serviço (e barato, o que cada vez é mais difícil já que praticamente metade daquilo que se factura é para alimentar Estado; Bancos e Seguradoras...); para haver um bom serviço temos de trabalhar como se não precisássemos de dinheiro e para trabalhar como se não precisássemos de dinheiro teríamos, de facto, de o ter ou, pelo menos, que a sua falta não nos tirasse o sono...
E assim se fecha o círculo, sem saber o que fazer - se correr aos bancos, que é o que todos fazem mas eu gostava de não ter de o fazer (de facto sonho permanentemente, já tive oportunidade de o dizer, com o dia em que chego lá, pago tudo e os mando àquela parte...); se continuar a andar para a frente a ver o que acontece e rezar todos os dias, todas as semanas e todos os meses que a coisa ande, pelo menos ao mesmo ritmo com que tem andado até aqui...e que, pelo caminho, não me dê uma travadinha...; se desistir desta história e voltar aos recibos verdes - isentos de IVA; isentos de retenção, que é o que esta gente merece. E ainda falam de incentivos às pequenas empresas!...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

E envergonharem-se, não?!...

É extraordinário o estado a que certas pessoas se deixam chegar. Não é só a obesidade; é o desleixo; a desvergonha.
Passeiam-se, quais baleias, de biquíni que mal se vê porque a barriga não deixa, ou de calções minúsculos cuja parte da frente não vê sol nem água porque o umbigo alinha com a parte de cima das coxas que, para se movimentarem coitadas, têm de andar bem afastadas uma da outra não vá o interior assar.
E não, não é doença, é desleixo. Esta gente não teme os ataques cardíacos?! Não tem espelhos em casa que lhes dê consciência que com corpos assim o melhor é usarem fatos de banho ou calções compridos?! E depois, que mal fiz eu a Deus para ter de levar com espectáculos destes?!
Hoje, na piscina, uma mulher de idade incerta mas seguramente avançada; que com certeza engoliu, em determinada altura do seu percurso vivencial, um buda, plantou-se à nossa frente num diminuto biquíni ao qual resolveu tirar as alças e foi um por um triz que não nos agraciou, a todos, com o maravilhoso espectáculo da sua nudez. Por amor de Deus!...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Maus hábitos

Sou daquelas pessoas que não devia almoçar. Deveria andar a manhã toda a «petiscar» - uma maçã agora; um iogurte mais tarde; mais uma peça de fruta...vá lá, no máximo um prato de sopa a meio do dia. Depois jantava cedo, tipo seis da tarde, como deve de ser.
É que o almoço tira-me a energia toda! Derreia-me! Acabo de comer e, se não me deito nem que seja um quarto de hora, ando por aí a arrastar o esqueleto e a desejar cama, para «despertar» novamente para a vida ao final da tarde, quando já não é preciso!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Vergonhas

Com gajos a receberem reformas milionárias e salários obscenos, o Estado resolve fazer poupanças à custa de desgraçados que não têm onde cair mortos!

De vez em quando...

...tenho saudades do amor. Daquele amor profundo que envolve corpos e almas e que transforma, ainda que por momentos, dois na ilusão de um. Daquele amor cúmplice, que se sabe com o olhar; que se sente quando por ele se passa como se uma nuvem etérea envolvesse os envolvidos. De vez em quando tenho saudades e, em rewind, busco o que tive de mais parecido - o que mais me aproximou desse estado que se diz existir e eu sei que sim porque lhe vi a sombra, curta, reflectida em mim. Só o que existe projecta sombra.
Tenho saudades, de vez em quando. Mas ainda bem que é só de vez em quando, não fosse eu cair nessa tristeza de abandono e impossibilidade em que os sonhos por realizar, tantas vezes, nos fazem cair.

domingo, 1 de agosto de 2010

Projecto Moda

Não sei se a minha curiosidade na criatividade dos concorrentes vai conseguir superar as agonias que sinto cada vez que a Nayma abre a boca.

O seu, a seu dono

Ninguém liga nenhuma aos revisores a não ser, evidentemente, se se estiver a ler um livro cheio de erros, aí sim, dá-se uma vista de olhos à ficha técnica para ver quem terá sido a besta que o reviu.
Assim quando o meu filho me disse – Estou aqui na FNAC a mostrar os teus livros à J. Estão em destaque! - O meu coração estremeceu. Por momentos pensei que podiam, por um qualquer milagre ou doideira da editora, ser os, realmente MEUS, livros. Os três que não passaram da primeira edição; que poucos conheceram e de que ainda menos se lembram. – EM DESTAQUE?!! – Exclamei. E ele, muito naturalmente, respondeu que sim e começou a citá-los. – Esses livros não são meus! – reclamei eu.
– Pois. Aqueles que tu reviste…
Já lá vão perto de oitenta obras. Algumas com mais de um volume. É um trabalho que gosto de fazer, mas só o meu filho para ter orgulho em abrir um deles e mostrar à namorada a ficha técnica…