Imaginem-se rodeados por peças de puzzle. Centenas delas. Milhares. Num dado momento, e por distracção, duas peças encaixam-se perfeitamente fazendo-nos acreditar que estamos perante um desenho, uma figura, algo com princípio meio e fim. Começamos então a procurar as peças restantes tentando encaixá-las nos devidos lugares. Ao princípio essa procura é entusiasmante. Estamos perante algo absolutamente novo! que figura se esconde em todas aquelas peças?!
O sucesso ou insucesso depende do número de encaixes, do tempo que se dedica à sua procura e da figura revelada pelas peças já encaixadas. É a partir destas variáveis que decidimos se continuamos ou não com a sua construção e se, depois de construído, fazemos ou não, com ele, alguma coisa de útil.
E que alegria quando o número suficiente de peças encontra o seu encaixe e a figura está de acordo com as nossas expectativas!
Mas com o tempo o entusiasmo abranda. O que temos já nos chega. Não precisamos de desvendar mais do que isso.
Podemos viver anos assim. Cada um convencido que tem o que precisa mas ansiando que o outro descubra o total do desenho escondido por aquele puzzle imenso. Deixamos de mexer nas peças e elas movimentam-se ao sabor do vento, da lua, da luz do sol e até das marés.
Até que nos esquecemos dele. Convencidos que aquele quadro é o todo, oscilamos entre a satisfação e o seu oposto, lamentando a falta de tempo e o fraco investimento do outro na sua construção.
Um dia, só porque sim, a curiosidade volta, ou, o que é mais comum, o acaso junta mais algumas peças que revelam uma parte escura da imagem, algo de que não gostamos e que pensámos não existir ali, naquela imagem tão do nosso agrado, tão de acordo com aquilo que nos faz vibrar…Tudo é posto em causa nesse dia. Até a nossa capacidade de aceitação.
3 comentários:
:) Concordo Antígona. Faz parte do nosso crescimento. Mau é apenas quando insistimos em não ver o resto para sempre...
Há por vezes peças que têm propriedades de dissimulação, ou são camaleónicas :)
Que fazer quando ao fim de algumas peças vemos um desenho e a outra pessoa vê algo diferente?
Prosseguimos, encaixamos mais, e mais, e mais, numa vertigem de cor e de cliques como uma criança com o seu primeiro Lego. Achamos que aquilo faz sentido.
Mas o outro, que parou sabe-se lá quantas peças atrás, não vê o mesmo que nós vemos. Ou se lhe acabou o entusiasmo, ou não gostou, simplesmente.
E chegamos ao fim com um puzzle que nunca ficará feito, uma imagem que nunca ficará completa; um potencial que nunca será cumprido - ou sequer tentado...
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