segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O que me entristece


O que me entristece, é não poder dizer aos meus pais, e aos meus filhos, Não se preocupem, vai correr tudo bem. Isso é que me entristece! E saber cada vez mais diminutas as probabilidades de ver sorrisos nos rostos dos meus amigos. Isso é que me entristece!

Sei lá eu se vai correr tudo bem! Espero que corra. Mas sei lá eu se vai correr! Portugal andou anos e anos a acreditar que a sua salvação estaria na fé e olha o que aconteceu – no momento, praticamente no momento, em que tudo se concretizava, pimba. Tudo por água abaixo. Está visto que isto não vai lá com fé. Não, não me parece que seja a fé a salvar-nos.

Acho que temos de fazer mais qualquer coisa para além da reza – temos de mostrar que estamos verdadeiramente empenhados. Verdadeiramente empenhados em andar para a frente. Verdadeiramente empenhados em crescer. Verdadeiramente empenhados em não nos deixarmos governar por outros interesses que não os nossos – os da maioria que somos nós; os de quem realmente trabalha. Os nossos. Os nossos interesses. Os interesses dos portugueses; e dos gregos; e dos espanhóis; e dos italianos; e dos franceses; e dos holandeses… Os interesses de quem trabalha e não de quem não sabe, nem nunca soube, o que isso é. Não os interesses de quem tem construído a vida à custa de especulações, compadrios e vigarices. Não os interesses da bolsa ou dos mercados, essas entidades virtuais e anónimas que encerram em cápsulas meia dúzia de vampiros que sabem que no momento em que de lá saírem sucumbirão. Mas os interesses de quem trabalha. De quem é gente que nasce e morre; que come e dorme e ri e chora e ama e luta e pensa e cria e É. Os nossos interesses.

2 comentários:

jr disse...

BELISSIMO TEXTO. TOMEI A LIBERDADE DE PUBLICAR EM aputadacarraca.blogspot.pt

AGRADEÇO
JR

Sputnick disse...

Muito bom, Amiga. E claro, partilha da mesma tristeza.