quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Politicamente incorrecto

No domingo passado um amigo confessou-me que não acredita no amor, a não ser, é claro, nesse amor universal que não escolhe objecto, ou no amor filial, também. De resto, dizia ele, isso a que chamam amor e que junta duas pessoas, é outra coisa qualquer, é gostar "como se gosta de sopa, por exemplo".

Achei graça ao pensamento, à comparação que, na verdade, não me pareceu desprovida de lógica. Ao fim e ao cabo, quem gosta de sopa gostará até ao fim da vida e, se num dia ou noutro, a sopa não lhe souber tão bem, será por estado de espírito ou porque a própria sopa não se apresenta como é costume, a gosto próprio. Foi esta a explicação que me foi dada e que me arrancou uma gargalhada, daquelas que se soltam por alívio que é como quem diz, na liberdade de quem se livrou de grilhetas sociais que travam certas manifestações de opinião.

Hoje, através do Facebook, dei de caras com um comentário de um outro amigo, bem mais jovem, também ele sobre o amor, esse amor universal que, supostamente, nos une, ou não. Ou não. Dizia ele:

"caridade não gera senão párias. compaixão não gera mais que invejas. ou são fruto delas. o altruísmo é um egoísta com disfarce e maior necessidade de satisfação pessoal. a diferença é que consegue essa satisfação mais à custa dos outros do que de si próprio. Como uma espécie de fetiche desarranjado ou hedonismo estragado em que o prazer de uma carícia se sente não quando no-las fazem mas quando as fazemos aos outros. E nem sequer pode ser equiparado à generosidade, em que dar, como partilha, é uma coisa que nos serve em conjunto.É uma coisa muito mais mesquinha, pequena, interior, tão escatológica e elementar como lavar o rabo."

É claro que são palavras grossas, pesadas, difíceis de digerir. Mas não o será, também, a verdade? O facto é que, mais uma vez, senti aquela liberdade de poder gritar aos sete ventos uma verdade que pode muito bem sê-lo. Uma possível verdade. Uma muito possível verdade. E quanto mais lia mais me parecia ser exactamente assim, tal e qual como o disse o Miguel, e apeteceu-me ser capaz de decorar as suas palavras porque é tão raro, cada vez mais raro, ouvirem-se opiniões verdadeiramente pensantes, sobre coisas verdadeiramente importantes.

E quando lá voltei, deparei-me com mais um comentário. Este, com que me fico:

"creio que as pessoas vivem com uma série de preconceitos que lhes foram incutidos desde sempre por morais e afins e que aceitam estranhamente como elementares. o grande problema social é a falta de sentido crítico individual. as pessoas aceitam o que lhes é dado e não questionam. a educação não deveria ser ensinar a saber. qualquer macaco aprende a saber. por imitação, por exemplo. a educação devia ser ensinar a pensar. e saber então surge de forma natural mas com uma independência de raciocínio que sabe pôr as coisas em causa para as levar mais além. e para pensar não há macaco que valha, não há imitação que o consiga. pensar é o princípio da criatividade. e a criatividade é o princípio da evolução, do progresso. como o mal, o bem também é uma bola de neve."

P.S. -  Mais do Miguel, aqui.

3 comentários:

maria disse...

Há uma grande confusão na cabeça desse rapaz. A caridade, sinónimo de amor ao próximo, bondade e compaixão é a maior das virtudes e quem lê a Bíblia sabe disso. Mas S. Paulo também escreveu que quem faz o bem sem amor (caridade) de nada vale. Jesus teve compaixão pelos homens e deu a Sua vida por Amor. Este é um grande valor!

Miguel Joao Ferreira disse...

Obrigado pelas citações Alda. Gostei do post e concordo com o teu primeiro amigo. Aliás, creio que já tinhamos tido também essa conversa e que, aparte a comparação da sopa que não me ocorreu, te dei a mesma opinião.
Eu diria que a moral da história é que o indivíduo se perde se não souber antagonizar-se com o status quo. As tuas antagonices, no fundo, são um caminho para isso.
Bjs,
M.

Miguel Joao Ferreira disse...

Maria,

dizer por meio de razões racionais e racionalizáveis que a minha cabeça é uma confusão ou a minha confusão é uma cabeça é algo que compreendo e aceito. Pode até ser que esteja cheia de razão.

Dizê-lo porém porque tem Cristo na ideia, ou doutrinas bíblicas e das metafísicas do raio que a parta a entupirem-lhe a lógica (com toda a delicadeza com que deve um raio partir uma senhora), é algo que não merece resposta que não por cortesia a resposta de que não lhe dou resposta porque não a merece.