Tempos houve em que se acreditava que aos bebés se deveria
alimento e bom descanso. Tocar só o necessário. E beijar… era coisa a evitar
por causa dos germes.
Muitos cresceram assim. Sem grandes demonstrações de afeto.
Sem toque. Sem beijos. Sem abracinhos ou carícias.
Esses bebés, os que cresceram assim, tornaram-se adultos
desajeitados. Não que não sintam afeto, mas não sabem como o demonstrar e
sofrem, muitas vezes, de uma falta qualquer que não identificam. Contudo,
conseguiram dar aos filhos um pouco mais do que aquilo que receberam dos progenitores. Ainda assim, muito pouco.
A coisa foi-se repetindo de geração em geração até se
atenuar o suficiente para que os danos não se tornassem completamente irreparáveis
e, hoje, podemos dizer que existiu uma geração que deu à luz gentinha mais ou
menos saudável.
Mais ou menos…
Os adultos que cresceram sem demonstrações de afeto, os
primeiros aqui referenciados, ainda existem. Velhinhos, mas existem. Com a
idade refinaram as carências e são agora pessoas que nunca foram realmente
adultas e que, por isso, se sentem traídas pelo seu próprio corpo. Algumas
dessas pessoas até tiveram a sorte de não precisarem assim por aí além de se
responsabilizar, nem por si nem por os outros – tiveram quem fizesse isso por
eles. Esses são os piores. Vivem como se todos lhes devessem e ninguém lhes
pagasse. Só estão felizes quando o mundo se põe, como que por magia, de acordo
com a sua vontade e, por isso mesmo – porque o mundo raramente se põe conforme
a nossa vontade -, andam quase sempre trombudos, responsabilizando fulano,
cicrano e beltrano pelos seus infortúnios que podem ir desde a avaria do
televisor ao sol que entra pela janela.
A todos aqueles que estão agora em idade, e predispostos, a
serem pais e mães, por favor não se esqueçam de abraçar muito as vossas
crianças. Beijem-nas até ao sufoco. Encham-nas de mimos. Não acreditem em
mitos, sejam eles urbanos ou rurais não deixam de ser mitos e, como tal,
capazes de fabricar mais um batalhão de vencidos. E isso é coisa que não nos
faz falta nenhuma.
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