sábado, 1 de junho de 2013

Somos peões, meros peões, nós, os mais pequenos

Há 38 anos que tento esgravatar nas memórias do meu pai, curiosa por saber tão exatamente quanto possível, o que é que realmente aconteceu antes, durante e após a revolução que dez meses depois o deixou assim, enfermo, incapacitado.
Sempre reparei que é um assunto que ele não gosta de abordar mas hoje, sabe-se lá porquê, levantou um pouco do véu que cobre os dias que medeiam Abril de 74 e Fevereiro de 75.
Hoje, vá lá saber-se porquê, lamentou certas decisões, confessou ter tido medo e chegou mesmo a levar à cabeça um dedo, em forma de gatilho, pum pum pum, fez ele, ao jeito de quem merece morrer por ter sido estúpido.
Hoje, tantos anos depois, tudo parece menos sério e muito mais claro a este octogenário que um dia se viu entre a espada e a parede, dividido entre a fidelidade e o companheirismo mas, sobretudo, que se sente arrependido de ter seguido pelo caminho que o levou até essa posição. Mas era muito mais dinheiro, diz ele, muito mais dinheiro…

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