Nem todas as pessoas são boas, ainda que o padre Américo
gostasse de acreditar que sim, e não sei se é mito ou não mas os cães, e se
calhar os gatos também, não faço ideia, parece que saem aos donos, que é como
quem diz – são maus se forem educados para o ser. São maus se forem criados por
gente má.
Aqui no sítio há um cão que me faz lembrar o cão dos
Baskervilles. Grande, possante, feio, aterrador. Mau como as piores cobras, tem
fama de atacar à traição e, segundo se conta, já limpou o sebo a mais do que um
que, abocanhando, só larga quando sente que o fim da presa chegou.
Várias queixas já foram feitas mas o dono está-se nas tintas
para elas e, embora seja raro ver-se de dia, de noite deambula pelas ruas e hoje,
enquanto passeávamos a Puca, vimo-lo sair disparado desta nossa rua. Passou por
nós a correr, qual monstro saído de um dos mais elaborados filmes de terror
americanos.
Trata-se de um serra da estrela gigante, que perdeu o pelo na
metade traseira do corpo o que lhe dá uma aparência leonina – sem desprestígio para
quem é do Sporting, até porque o leão do clube, ao pé deste cão, parece um gato
manso. Infelizmente, já tive oportunidade de o ver em ação e posso afirmar que o
seu olhar é feroz, ao estilo assassino lunático e a queixada terrível, de
presas salientes que ele faz questão de arreganhar para que não existam dúvidas
quanto às suas intenções.
Assim que hoje se nos atravessou o caminho, o meu coração disparou, recolhi a trela da Puca e peguei na maior
pedra que encontrei na certeza de que não hesitaria em arremessá-la se ele,
mudando de ideias, voltasse para trás.
Dá sempre jeito ter um cão assim, ou seja o que for, por
perto. É um excelente, por justificado, alvo de ódio e de raiva. Um excelente instrumento.
Um enfrenta medos do caraças.
Hoje, de pedra na mão, senti-me poderosa e quase desejei que
ele voltasse atrás para o matar. É que matava o desgraçado. Eu seja cão se não
o matava.
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