A classe média é, em grande medida, o garante dos ricos.
Enquanto os do meio estiverem felizes, os de cima são deixados em paz e os de
baixo na crença de que um dia, se estudarem e trabalharem muito, se forem bons
meninos, podem subir um escalão ou dois e credibilizar a mobilidade social.
Por outro lado, se a classe média começar a sofrer baixas
substanciais, os ricos começam a ficar isolados – eles em cima, os pobres em
baixo e um grande vazio no meio. Quanto maior for o vazio, mais perigosa se
torna a existência dos poucos que constituem o topo da pirâmide e mais
necessidade eles têm de se defender, isolando-se, protegendo-se, criando,
até, manobras de diversão.
Numa época como esta que atravessamos, em que a classe
média está cada vez mais pobre e em que a sociedade se agita para o lado dos
poucos ricos (poucos, e não pouco, note-se), entrevistas como a que a Judite de
Sousa fez ao jovem Lorenzo vêm mesmo a calhar – levanta-se o povo, esse mesmo
que está cada vez mais pobre, em defesa dos ricos que aos 13 anos já têm carro
e aos 17 Ferraris.
E a jornalista, que todos sabemos ganhar mais do que a
maioria dos portugueses, pode descansar do alto dos seus Louboutin porque ajudou
na defesa de uma classe à qual, se ainda não pertence, aspira a pertencer
enquanto a maioria de nós anda para trás, ou para baixo – depende do ponto de
vista.
Ele há estratégias para tudo e nós caimos nelas, todos os
dias, que nem uns patinhos.
2 comentários:
Comentário muito interessante. Clarividente, mesmo. Parabéns!
Resta saber quando é que os "do meio" se decidem a enfrentar as manobras de diversão e a juntar-se aos "de baixo" para mostrar aos poucos muito ricos (e vergonhosamente - criminosamente? - parasitas) que não querem mais ser patinhos-alvo!...
Há um tempo que deixei de simpatizar com a Judite. Não gostei da entrevista, nem do Lorenzo. Acho que estamos de acordo, portanto... :)
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