Tudo, ou praticamente tudo, aquilo que existe alimenta o
que é, mesmo quando aparenta o oposto.
Os partidos políticos alimentam, todos eles, esta forma
de estar, criando a ilusão de liberdade num mundo onde ela nunca foi mais
escassa.
Os comentários de ataque alimentam a ilusão de que
existem livres pensadores, ou opositores credíveis e capazes, quando as mazelas que conseguem fazer, por muito que
escarafunchem, são mais difíceis de encontrar do que uma agulha num palheiro.
A terminologia esquerda/direita alimenta a ilusão de que
podemos tanto quanto podíamos há meio século atrás, quando o mundo, que nunca
foi o que era, cada vez o é menos – qualquer semelhança é pura coincidência e
teimar em métodos obsoletos é, evidentemente, uma forma indirecta, e por vezes
inconsciente, de manter o mesmo estado de coisas.
E agora que já fiz o mesmo que tantos outros – vomitei o
que acho de forma inconsequente e leviana -, posso dizer o que sugiro –
exactamente da mesma maneira.
Sugiro que cada um de nós se afaste o mais possível do
vampirismo. Que cada um de nós aprenda, cada vez mais, todas as possibilidades
que existem de viver longe de tudo aquilo que fomos criando na crença de que um
dia todos iríamos desfrutar plenamente dessa criação.
Sugiro que percamos o medo, que estejamos prontos para
tudo, que tenhamos fé – uma fé inabalável -, seja no que fôr desde que não seja
nesta sociedade. Uma fé inabalável, por exemplo, em nós e na nossa capacidade
de mudar os nossos pequenos mundos.
Sugiro que estejamos
prontos para tudo, que percamos o medo. Sim, eu sei que já disse isto mas não
disse o que quero dizer a seguir – estar pronto para tudo não é estar
prevenido. Quem se previne para o que nem sabe se vai acontecer guarda em casa
o medo do que possa acontecer. Estar pronto para tudo é estar nu, de peito
aberto e mãos abertas. Estar pronto para tudo é ser capaz de abdicar de tudo e
saber, de fonte segura, que não morrerá disso. E se morrer, tanto pior (ou melhor). Estar pronto para tudo é não ter medo de nada, muito menos da morte. Nem que, para isso, tenhamos de acreditar que ela não existe. É que, só quando todos estivermos prontos para tudo é esta construção fundada no medo se desmoronará.
2 comentários:
Isso é um sonho Antígona, impossível ao comum dos mortais. Não te parece?...
Sinceramente, não :) :)
Enviar um comentário