quinta-feira, 6 de maio de 2010

Regresso ao passado

Ao fim de trinta anos voltamos a partilhar casa. Ontem, quando cheguei, já cá os tinha, sentadinhos na mesa da sala, a jantar. Gostei de os ver. O pior mesmo são os hábitos que se vão adquirindo ao longo da vida. As mulheres do antigamente que se educaram para servir. Para servir os homens. E educaram-se mal, elas e eles.
Teimoso que só ele, o meu pai insiste em recusar todos os artifícios, hoje em dia tão comuns, que permitem uma vida mais simples e ajudam tanto quem precisa como quem tem de ajudar. Comprei uma prancha para a banheira – não a quer; comprei uma pega para se agarrar – usa o toalheiro, e a minha mãe, velhota que está, é que tem de estar de braços no ar para o ensaboar. Já lhe disse que não é por ele, é por ela, e só assim ele aceita que a prancha se monte amanhã e que outra pega se compre porque uma só serve para entrar, não serve para sair.
A televisão a gritar novelas nocturnas é outra coisa de que vai ter de se desabituar a não ser que endoideça eu. Portanto, já está montada uma mais pequena no quarto para onde ele pode ir ensurdecer com os disparates novelescos e dar descanso à minha mãe que anda há anos a aguentar o que não gosta.
Mimado, isso sim, é o que ele tem sido, o que vale é que me parece que tem bom feitio e lá vai sorrindo às contrariedades, mas uma coisa é certa – é ele quem mais vai sentir esta mudança, que em vez de uma agora tem duas mulheres a rodeá-lo, e uma delas é tão teimosa como ele.

2 comentários:

CF disse...

:):)

Goldfish disse...

As diferenças geracionais no nosso país dão água pelas barbas às gerações mais novas. E vá lá que aceite mudar pela esposa... Já é "muito à frente"!