terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Ai de mim

Quero estar, e estou, feliz no meu pequeno mundo, aquele que o meu horizonte abarca e o meu coração protege, mas não me é possível inebriar e esquecer o resto, que também faz, infelizmente, parte daquilo que é meu. Não que eu tenha pedido, na verdade não pedi, ofereceram-me. Muito já cá estava quando cheguei, o resto veio depois de 75. Foi uma alegria! Tanta fartura! Até de liberdade e de justiça houve fartura.

Agora dizem-me que afinal é preciso devolver. Parece que quem deu não tinha na verdade nada para dar, e pediu emprestado. Agora mostram-me que afinal a liberdade é uma ilusão e a justiça uma farsa. Eu deixei de poder pôr o pé em ramo verde. Ai de mim se me atrevo a pisar um pouco mais o acelerador ou a parar o carro seja lá onde for – nos dias que correm não há lugares oferecidos, todos se vendem. Ai de mim se me atrevo a deixar passar uns dias o prazo seja de que imposto for. Ai de mim. Que tenho de andar permanentemente alerta não vá a memória atraiçoar-me. Que tenho de fazer das tripas coração e pedir até que me paguem, e fazer esperar aqueles a quem tenho de pagar, num círculo vicioso de atrasos constantes. Ai de mim que os vejo a todos, esses que roubaram anos a fio, esses que têm de sobra aquém e além-fronteiras, a serem absolvidos pela justiça que afinal só é cega para quem a pode pagar. Ai de mim.