quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Trimmmmmmmmmmmmmmmmmm

Entusiasmavam-me  aqueles telemóveis de toques a sério, em vez das músicas pirosas e estridentes daqueles de primeira geração, capazes de me envergonhar por muito cuidado que ponha na escolha, sempre tão difícil: Oiço vezes sem conta as alternativas, e opto por o menor dos males com alguma racionalidade - Esta ouve-se bem mesmo que esteja no fundo mala - que me acalma a frustração de não ter um telefone que me chame com um simples e maravilhoso trimmm. E dizia cá para mim que ainda havia de ter um telefone desses. Quando mais não fosse quando os meus deixassem de trabalhar.

Mesmo assim nunca me passou pela cabeça deixar cair um, como quem não quer a coisa, dentro da sanita, ou atirar-me, com roupa e tudo, para dentro de uma piscina. Fiz isso uma vez e não teve graça nenhuma, pelo menos para mim que saí de lá com mais dez quilos em cima sem conseguir levantar os pés de tanta água albergada dentro dos sapatos. E depois um telemóvel não é um automóvel – não está sujeito às vicissitudes do que anda pelas estradas arriscando sabe Deus o quê… Assim vão durando anos, ao pé de mim que os trato, provavelmente, bem. E quando toda a gente exibe iphone, ipads e sabe Deus que mais Ais, eu continuo com os meus velhos Nokia, um deles, o da viatura, colado com fita-cola e pendurado num kit mãos livres que já saiu do mercado há anos. Todos a tocarem músicas mais ou menos estridentes sem aquele trimmmmm por que eu tanto ambiciono.

Há dois dias a Vodafone resolveu disponibilizar-me um telefone desses, dos que tocam como um telefone deve tocar. É uma sensação extraordinária. Sempre que o telefone toca sinto-me poderosa, séria, como se transportasse, não um simples telemóvel, mas um verdadeiro telefone. Sinto-me uma profissional.

E foi como tal que hoje saí feita doida estrada afora e me espetei de encontro a uma viatura carregada de velhinhos que parou a três metros de uma passadeira. O carro deles não sofreu dano de monta e dispensa arranjo. O meu já não pode dizer o mesmo, coitado. De capô recolhido e faróis rachados nem parece o mesmo. 

O velhote que conduzia o Toyota saiu, apoiado numa bengala, e deixou-se ficar encostado ao carro, respirando com dificuldade, à minha espera. Quando o abordei percebi que de português pouco percebia e declaração amigável, para ele, é algo que se diz amigavelmente e depois se cumpre. Sem saber o que fazer agarrei no meu telefone novo e, arrastando orgulhosamente o dedo pelo ecrã, procurei o número do meu agente de seguros. Ó surpresa! Estava lá tudo! Tudo! Todos os meus contactos importados diretamente do computador! Extraordinária tecnologia! Era um nunca mais acabar de gente! Estavam lá todos. Todos, menos um – o do agente dos seguros.