Não sou pessoa de fala fácil, daquelas que têm na ponta da língua uma resposta apropriada, não sou. Quando algo me toca, oiço e oiço, repetidas vezes, o eco dentro de mim e é aí, nesse mastigar de palavras, que outras me surgem a propósito.
Ontem falava-se de espaço. Do espaço que se cria, do espaço que se cede. Da falta de espaço. E foi a propósito dessa conversa que hoje cheguei a casa e olhei com atenção os pormenores, a mistura de estilos, as cedências, as adaptações, os encaixes. Comparei esta minha casa com todas as outras que tive anteriormente e conclui que também ela espelha a evolução, o caminho, a aprendizagem e a adaptabilidade de quem a habita. E se há anos atrás eu cheguei a sentir uma dor imensa na cedência de todos os objetos que faziam parte do meu mundo, hoje sinto que o mundo está muito para além dos objetos que dele fazem parte, ainda que estes possam, e devam, contribuir para o meu crescente bem-estar.
Fui simplificando, minimalizando, dispensando o dispensável e, na considerável perda financeira que sofri, adaptando as necessidades às possibilidades, valorizando o conforto e a saúde. Quando os meus pais se mudaram para cá senti alguns apertos de peito. Na verdade teria querido que eles prescindissem de tudo o que tinham e se adaptassem ao que é meu! Haverá atitude mais egoísta?! E à medida que fui aprendendo a ceder fui sentindo a leveza de quem se liberta de coisas cuja importância é bem menor do que aquela que lhe atribuímos e hoje, neste meu atento olhar, chego à conclusão que existe alguma beleza nesta mistura de estilos, nesta distribuição de espaços onde, afinal, todos são bem-vindos.
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